segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um livro apenas

Sento-me. À noite a casa fica mais calma para se poder ler. A chatice da leitura é que necessita de luz e eu...eu prefiro mil vezes as sombras onde podemos indefinir qualquer coisa, na sua definição.
A roupa amontoa-se por todos os lados. Aqui tudo se amontoa. Vão se criando montinhos ordenados como se estivessem no seu lugar, mas nada nunca tem lugar nesta casa onde habito. Falta o meu eu aqui.
Abro o livro. A luz retira-me o prazer da companhia dos senhores das sombras, os medos irracionais que me fazem pular o coração como se estivesse apaixonada.
Apaixonada...nos livros que leio há sempre uma história de amor que acaba bem. Alguém me dizia um dia: as histórias de amor acabam sempre bem ou não são histórias de amor, ao que inevitavelmente respondia: tudo o que acaba, acaba mal, senão não acabava.
Este livro está no fim, não acaba bem nem mal. Acaba apenas. Foi uma história apenas. Acaba talvez por falta de emoção de quem o escreve. Emoções passam-se de todas as formas, como se fosse algo que se colasse a nós só pela proximidade, assim como a luz traz a claridade e a penumbra traz a indefinição, as emoções trazem consigo sensações que se colam a nós.
O livro acabou, mas a mesa aninha um amontoado de outros livros que esperam por mim. Tal como a roupa espera pelo meu corpo, e eu espero por um novo dia vestido de manhã.
Apago a luz, as sombras voltam. Peço silêncio aos senhores das sombras ( os medos). Agora é hora de dormir. Não quero perceber nada indefinido, nem ouvir os seus murmúrios com que escondem seus segredos. Quero dormir e sonhar com uma história de amor que não tem fim e vive dentro de um livro que transpira emoções.

Um livro mágico, que se vê e ouve

http://www.youtube.com/watch?v=lePW7i7vZaw&feature=youtube_gdata_player

Páginas do livro em digital video book , ainda mais perto das sensações.

sábado, 30 de julho de 2011

Podia escrever-te uma carta

Podia escrever-te uma carta. Sei que é o que queres, mas não tenho nada para te dizer. Gostaram - se - me as palavras. Acontece, sabias? O ponto em que já foi tudo dito, e tudo o mais são redundâncias. Prefiro ficar mimando a minha imaginação, como se fosse uma boneca velha. Aquela boneca favorita que nos acompanha o resto da vida, simplesmente porque, o tanto afecto que lhe temos não nos permite dispensá-la. Não me parece sequer que seja esse o teu estatuto, prefiro a boneca velha, a minha imaginação.
Gastaste - me as palavras em fundamentos sem fundações, em discussões sem argumentos, em cansaços de explicações de coisas que não eram para ser percebidas. Porque nem tudo se percebe, nem tudo serve para ser falado, nem tudo pode ser calado.
Gastas-te-me as palavras e mesmo que te quisesse escrever uma carta, não saberia sobre que assunto te falar. Não sobrou o que dizer, gastámos em nós tudo o que havia para ser consumido.
O meu pensamento já não deseja , já não procura. O beijo perdeu o sabor, o teu corpo adormeceu longe do meu e não o sinto no meu leito de aconchego. A chama extinguiu-se de tanto soprar ventos na vela. Prefiro a boneca velha da minha imaginação...
Podia escrever-te uma carta, mas só restou o silêncio para nos preencher e um fogo por reacender...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Desfaço-me em mim




Encostada na encosta observo o mar...
Mergulhar ou não mergulhar?
Ainda mergulho na mar de lágrimas que deixaste no meu caminho. Ainda tento nadar em salvação para encontrar a margem. À margem de tudo. Os braços parecem-me sempre fracos para chegar. E sonho em pesadelos, com o meu próprio afogar. Afogo-me no suor que me fica do teu pensar em mim. Sem ti. Desfaço-me aos poucos como uma corda velha que por demasiado uso perdeu a sua força...ou não talvez tenham sido as voltas da vida que destroceram os fios e desunidos enfraqueceram... Que digo eu? que sonho eu? Quem escreve por minhas mãos estas palavras? Onde vou pairar agora, em que sonhos morarei depois de atravessar o mar de lágrimas da tua paixão?
Desfaço-me em mim, depois de ti. Sou eu os ligamentos desconjuntados de uma corda de força. Torcer e retorcer sem retroceder. O mar ficou para trás. Procuro-te nas ondas que o meu cérebro emana e nem um sonho te persegue. Perdeste-te. Afoguei-te no mar das minhas lágrimas...
Quem sou eu, quem eras tu...perguntas sem nexo para uma quase desafogada. Nem me interessa o que te interessa.Sem pressa, o mar de lágrimas ficou para trás e eu desfaço-me em mim, torço e retorço sem querer mais retroceder

terça-feira, 26 de julho de 2011

Saudades da chuva

Se te dissesse que tenho saudades da chuva, dirias que não me conheces...será que dirias? Será que te conheci?
Tenho saudades da chuva, do chilrear da água que cai sem resguardo e nos resguarda no calor das recordações.
Tenho saudades das tardes de tédio com o chá e contigo por companhia. As tardes em que contavamos as gotas de chuva que conseguiam alterar o seu percurso após o confronto com a velha mesa do quintal...a mesa onde um dia perdemos a cabeça, o corpo, o radar... a mesa onde tudo começou por acabar.
Tenho saudades de te contar, coisas de que nem sempre me lembrava, mas contava pelo prazer de te ver ouvir-me.
Gostava que me ouvisses. Foi quando o som deu lugar ao cheiro e ao sabor do teu sentir, que tudo começou por acabar. E eu...tenho saudades que a chuva lave o que me resta das tuas lembranças e que as gotas mudem de rumo anunciando novas primaveras.
A mesa fica insuportável com a tua imagem presa no vazio do meu olhar...



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Morrer de amor por mim




Morreria mil vezes. Voltaria a caminhar.
Entre o pó, nas tempestades, caminhar... caminhar, navegar.
Morreria mil vezes para te possuir outra vez. Que ninguém possui ninguém...
São momentos gastos, passados, juntos, pegados ou apegados.
Tudo de novo, o coração na boca, o corpo por uma boca a boca por todo o corpo.
Morri!
Quando te conheci... fiquei quebrada, rasgada.
Uma pedra na calçada, pisada.
E morreria mil vezes para poder de novo viver, sentir, arder, para de novo morrer.
O caminho levou-te no pó. Numa cova enterraste o que te dei e só restou a lembrança que me faz querer morrer.
Nascerei? Nascerei...alguém me virá resgatar. Quem ouvirá o corpo que grita um nome já sem nome, sem rosto, sem esperança?
No fundo...e de novo a dança. Desperta-me com um olhar, um sussurro e o coração que te espera. Não és tu, um outro olhar, num outro corpo, numa voz que não dita as mesmas notas de paixão...E morreria mil vezes para pisar as pedras, comer o pó das distâncias e sentir por mim tudo o que senti por ti.
 Voltaria às mesmas teias da paixão, á mesma luxuriosa tensão, mas já não pelo teu coração... apenas pelo meu, pelo sorriso de fazer morrer qualquer desilusão.

A lua de um homem só

A noite chega sempre serena, continda entre os silêncios e os segredos que as ruas não contam, sempre que encontram os passos dos anónimos que por elas passam.
É sempre mais um coração na solidão, num toc-toc de passadas que trazem em si pensamentos.
Quem vem lá? Quem ousa acordar as calçadas que se descalçam de vida para deixar a noite e vestir de negro as ruelas?
São vestes de festa. O preto é a cor com que se vestem as damas nas horas de cerimónia... a meia preta cobrindo o defeito da pele pronunciando a forma perfeita para o olhar que a quer ver assim.
Parou. O efeito do liquido que altera as percepções é vísivel. Sente apenas aquilo que o peito inflama. A mente transforma lentamente os pensamentos, transferindo-os da cabeça para o coração. A rua ficou em silêncio, de novo, calados os passos parados. Estará alguém por aqui? Nas ruas vestidas de noite as regras são diferentes, como se a etiqueta mudasse. Ninguém. A lua no alto. A lua devia descer mais vezes, chegar mais perto. Devia ocupar os negros véus de cerimónia das vielas onde só caminham os seres que alteram as percepções com poções que ninguém sabe quem criou. Bebidas de Deuses que calam cabeças e fazem falar corações.
Encostou-se. Encostou? Não sei, ninguém viu, porque são o silêncio e o segredo que ocupam os espaços. Sim! Enconstou-se, não se ouvem os passos e eu ouço-lhe apenas os pensamentos. Deviam ser caixas fechadas os pensamentos, porque nem todos os entendem. São próprios, únicos, ganhando lógica apenas na lógica de cada um.
E a lua que não vem cá abaixo. Uma lágrima. Não a vi. Senti escorrer-me nas entranhas, a lágrima não chorada por mim. Uma apenas. Uma cascata de emoções concentrada numa única lágrima. Senti eu e ele... e a lua que não desce para me iluminar a escuridão da noite embriagada num liquido que afoga o coração. Ou será a cabeça? Afogada, perdida, morta de racionalidades. Foram as pernas. As meias pretas, o vestido da cerimónia onde não fui... o corpo que pedia aperto, mãos em volta. Alguém que lhe abrisse os braços, a boca, as emoções.
O caminho mantem-se vestido pela escuridão da noite, esse véu que preenche tudo.
E a lua que não vem cá abaixo, o que é que eu faço?
Desencostou-se. De novo o som dos passos, em compassos de uma música que não dançou. A meia preta enroscava-se já noutra perna, que lhe abriu outras portas. A boca calou para sempre o desejo que lhe escorria certeiro entre pensamentos de coração e de cabeças. Dificil, que ao Homem cabe conter, domar e acertar em uníssono muitas cabeças.
Seguiu. E a lua que não vem cá abaixo iluminar-me as decisões, só a lua entende por certo a mulher, nem sempre cheia, nem sempre nova, nem sempre iluminada mas presente, sempre, em todas as noites que o mundo criar.
Foram os ultimos pensamentos que lhe ouvi. As meias pretas enroscadas em outras pernas, enquanto apenas o peito pensa... e a lua que não veio cá abaixo...
Fechei a janela. A ruela manteve o seu véu negro, vestido de cerimónia da noite. Fechei a cortina. Esta peça por hoje acabou, talvez se encontrem outras meias, outras bocas, outros braços, outras lágrimas num peito afogado no liquido que os Deuses criaram.
A lua entrou, mansinha, sem pedir licença, descalça, para nem se ouvirem seus passos nas pedras que ás calçadas pertencem. De que servem cortinas, pedidos ou pensamentos perdidos se a lua só entrou depois que o pensamento errante , foi embora e se calou...
Ao longe o pensamento dele ainda me chegou... e tu lua ? A ti alguém alguma vez te abandonou?

sábado, 23 de julho de 2011

Música e poesia - o diálogo dos anjos

http://www.youtube.com/watch?v=EnJK9uHXots&feature=youtube_gdata_player

A chuva em tempo de Verão é o céu que se emociona de cada vez que um anjo canta. Um poema é um segredo divino autorizado a ser partilhado com o comum dos mortais, é a letra com que os anjos cantam nos seus hinos de amor, nos arremeços de dor que não têm morada certa. Emprestar a voz, a um clamor mais alto, a um grito, a um pranto.
Dividir o peito, o amor e o leito com aqueles que sobrevoam todos os quereres do mundo. É um não calar injustiças, sentindo utopia como o canto natural, tal como a cotovia.
É divindir palavras com quem entende, com quem não sabe ou com quem se vende, a todos por igual como se fossem irmãos de sal ( esse valioso mineral que tempera os instintos, em pitadas alternadas conforme o seu natural sabor).
Sabendo palavras novas, em feitiços se fazem prosas, levando o imaginar ao coração de quem gostar.
Música e poesia - o diálogo dos anjos a que nos é permitido chegar, amar e interpertar. Algo em nós se levanta cada vez que um ser nos canta tocando sem nos tocar num feitiço impar de a todos aproximar.




sexta-feira, 22 de julho de 2011

Quem és tu mulher ?

(Imagem de Mehmet Emin Akkas )


Senta-te aqui...
Não quero, estou bem aqui sentada no chão, o fresco da terra húmida ajuda a diluir o aperto que sinto no coração.
Mas assim vejo-te as pernas e percorro-te as coxas com a imaginação ficando a desejar o fruto que me escondes para lá de tudo o que só posso imaginar. Anda, senta-te aqui perto de mim.
De que vale sentar-me próximo, se não me vês, não me sentes, nem me tocas? Tens medo que siga voando por esses céus onde a lua, muitas vezes só ela, é confidente daquilo que não te digo.
Quando foi que te perdi?
No momento em que o universo te disses para que me tocasses e não o fizeste. Somos um misto de tudo sabias? Desta terra que pisamos, dos desejos que sentimos, das lágrimas que choramos e das palavras que ocultamos até de nós próprios. As oportunidades perdidas são como pérolas encerradas dentro de ostras, fechadas, não saberemos nada da sua preciosidade.
Olho-te, és apenas um corpo, nem melhor nem pior que outros que conheci, mas encerras em ti algo diferente, que me atrai, que me amarra a ti como se fosses uma âncora que me leva ao fundo. Por favor, senta-te aqui...
Levantas-te , o teu jeito de garça com a graciosidade de ave que parte sempre à procura de um lugar melhor para abrigar o ninho.
Sentei-me e ouvi apenas a voz do silêncio. Preferia tempestades, a voz do vento o som da música, tudo é melhor do que o silêncio que nos uniu. Não vás...
O som de uma flauta enche o ar da noite, um som débil, de aprendiz, de criança que aprende a manejar um instrumento, para lhe extrair notas mágicas.
Não vou...mas também não fico. Sou como o teu desejo, tem olhos mas não me sabe ler, usa palavras que não consegue entender, esconde-se em vez de se orgulhar com o nosso querer... não vou, mas também não fico...
Escondeu-se na noite, entre as sombras, no silêncio cortado pelo aprendiz de flautista que sonorizou tristemente mais uma das suas idas.
Quem és tu mulher? Que me fazes nada saber do teu e do meu querer...


quinta-feira, 21 de julho de 2011

As barreiras do visível

Que luzes são aquelas?
A encosta está povoada de multiplos minusculos pontos tremeluzentes. Uma baía de escuridão e de novo uma encosta, fronteira à primeira, como se de uma imagem espelhada se tratasse.
Também as vês?
Vejo. Eu vejo muita coisa. Vejo até coisas que tu não consegues ver...
E o que vês tu?
Sorri e sussurrei-lhe, como se lhe contasse o mais antigo segredo das tradições orais.
Todos os corpos têm luz, aura, um espectro colorido próprio como uma impressão digital. Cada corpo o seu, diferente de todos os outros, em combinações inacabáveis, inegualáveis. Todos os seres vivos têm um corpo que é seu mas nem sempre a luz dos corpos se vê. Porque que há outros corpos mais luminosos que os ofuscam, porque são tão pessoais e secretas, as luzes, que nem todos os olhos as podem ver e não brilham de forma igual todos os dias.
E que corpos são aqueles que vemos?
Fecha os olhos. Que seres estás a ver?
São árvores.
Sim, são árvores. Despiram-se dos seus pudores de imobilidade e dançam com os braços ao vento, tocando por certo no lago onde se afunda a escuridão da baía.
As árvores dançam, amam-se na sua próximidade, fazendo hoje o que não fazem todos os dias nem diante de todos os olhos. Compartilham os corpos e tocam-se mostrando a sua luz.
E porque vemos nós as luzes? Porque não as estamos a observar com os olhos que temos na cara mas com o poderoso olho da intuição, que muitas vezes necessita que se fechem os outros, os que vêm as coisas visíveis.
Gostava de ser assim...
Assim como?
Assim, ver as coisas que ninguém vê.
Não viste?
Vi.
Não soubeste logo que corpos eram?
Sim.
Então, todos somos assim. Basta querer ser sensível o suficiente para tentar ultrapassar as barreiras do visível. Tudo está aí para ser visto, ouvido e percebido, basta usar os sentidos com que a natureza nos apetrechou para ultrapassar as barreiras que a realidade nos impõe...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O mundo dos que sonham por sonhar

http://www.youtube.com/watch?v=EYBHNLdwzbs&feature=youtube_gdata_player

Não sou deste mundo, nem deste tempo e orgulho-me de não o ser, ao contrário do que possam pensar desatentas memórias apagadas ao que se vê...não sou deste mundo e vagueio... desapegada do que não seja apego, aconchego.
Por onde eu vou só acompanha quem sente e não é qualquer ser vivente que voa livre pelos corredores da mente.
São de marfim, as pedras por onde caminho, de seda as asas com que levito nos céus de platina os escudos com que me resguardo, porque não sou deste mundo.
Alheio as atenções às confusões e a vida é bela... Miséria é viver preso ao ser, viver para se entontecer pelos caminhos delimitados das instruções de quem julga que sabe onde vai e onde pensa levar alguém.
Não...não sou deste mundo, e é a música que os céus segredam nos ouvidos dos homens que me transmutam da miséria dos dias iguais para a magia de poder sonhar, só por sonhar, sentir só por poder sentir, viver só por poder viver.
Sem mais nada, fora do mundo, porque o mundo só existe dentro de cada um de nós... e eu orgulho-me de ter um enorme, só meu, que partilho com quem entende a voz da música, o som da vida, a língua que fala o coração, o dialeto das nuvens e o código que só conhecem os sonhadores dos mistérios dos sentidos...

O meu mundo fantástico

Construí um castelo nas nuvens e fiquei presa no interior.
Sonhei de dia e de noite com um principe, no seu cavalo alado que me viesse salvar. Esperei, esperei e desesperei...Foi um dragão que me encontrou, cuspindo línguas de fogo que me queimavam a pele frágil, sujeita às penitências de uma prisão. Escondi-me dentro de todos os buracos na pedra, para que não desse pela minha presença, pelo meu cheiro, pelo meu frágil existir.
Desistiu, não me achando.
Uma a uma fiz cair todas as pedras do castelo. A nossa mente cria as nossas próprias prisões quando galga muito acima do sonho praticável.
Gosto da minha cabana. Da janela vejo o mar. Não que ele exista, mas porque simplesmente quero que ali esteja, e a força do querer contrabalança como um fiel aliado a fragilidade do sonho.
Gosto da minha cabana, onde me deito a ler um livro, feito de histórias bonitas, só porque o bonito passou a fazer parte de todas as horas que o meu dia me oferece.
Nunca mais quis um castelo, nem um príncipe nem um sonho que não esteja impregnado de força de querer. Porque não gosto de dragões. Porque as criaturas fantásticas serão sempre imprevisíveis...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Apagar o brilho das estrelas

Uma a uma acabarão por se apagar. As estrelas. Primeiro as mais brilhantes, depois as mais distantes. Talvez seja ao contrário, não sei. Ficará a mais pequena estrela, que assumiu o lugar do sol, sem saber realmente as condições do contrato que assinaria para a eternidade. Brilharás, para que todos te vejam e para que te lembres que é a proximidade que faz o tamanho das coisas, e não a sua real grandeza. Brilharás para que saibas que és grande apenas porque te temos por perto.
Acabarão por se apagar uma a uma as estrelas, tal como todas as outras, pequenas grandes, distantes, proximas, e algumas na utopia que a sua presença é indispensável para a existência de todas .

Perdoa-se quem tem a humildade de pedir perdão e não quem exibe orgulhasamente a bandeira do que se conseguiu em nome do sofrimento e desorientação alheios.

Por isso todas as estrelas se apagarão, porque confundem a cor da sua luz com a cor da luz das outras, até que um dia deixam de ser quem são. Para elas...para as outras...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Post scriptum

http://www.youtube.com/watch?v=J33KUtfHTgk&feature=youtube_gdata_player

Hoje a unica palavra que me entoa na cabeça é obrigada, com todos os sentidos, sentidos que pode ter...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

continuo_ar






Sufocando, o ar que respiro não me chega.
Não me sobram minutos no tempo, e o ar que se espalha no ar que corre não me chega. Nada me chega, tudo me é demais. E talvez esteja a mais. Uma a mais, nos estreitos dedos das mãos da vida por onde escorrem as vidas normais que não sei como atingir. Nado, a nado, entre o nado que nasceu vivo mas que se perdeu ( o que se perdeu?, onde se perdeu? Quem se perdeu? E quem sou eu? )
Nado, um pouco mais de nada e chegarei contra correntes, a esses rios que percorrem as mãos da vida que não sei identificar.
Que escola foi a minha onde não me ensinaram a geografia dos rios da vida?
De onde afluem as liberdades, as vontades, os poderes? Onde é a foz da mentira, da desilusão?
Nado e nado e nada de novo encontro, para encontrar. Quem se perdeu no navegar? Quem te ensinou a nadar? E voltamos ao ar onde a cabeça se esconde, num oco vazio de nada para que os pensamentos possam voar. O ar que respiro não me chega assim como não me chega a vida que encontro e por tento nadar num nada onde me sobram minutos, e onde me falta o tempo para aprender a chegar

sábado, 9 de julho de 2011

Montanhas e horizontes

Elas sempre estiveram ali. As montanhas. Conheço os seus recortes de cor, como geografias da minha própria vontade, as alturas dos meus desafios, depressões e saliências prontas a serem escaladas para descobrir, encontrar.
O que poderá surgir do lado de lá?
Naquelas montanhas o sol se põe. Cada vez que nelas repouso o olhar, a mesma dúvida, a mesma questão.
O que se encontrará do lado de lá da solidez que me separa do horizonte?
Quantas vezes nos diluímos nas dúvidas, deixando ao sol a tarefa de iluminar, só ele, aquilo que queremos também ver...
E deixamos que o sol nos sobreponha, as aves do céu nos gritem o que não conseguimos decifrar, mas também queremos conseguir...
Um dia e outro e no horizonte a montanha que conhecemos de cor e a vontade, essa mortificante vontade de atravessar.
E um dia, do nada que somos, a vontade sussurra ao ouvido a palavra passe. Passa, passa... de ferro, gigante, transformas a montanha em nada mais que uma linha, a um passo do teu alcance, e aumentas numa infinidade de novas paisagens o tamanho do que verás no seguir...

Nenhuma montanha é tão alta que não a possas escalar, nenhum horizonte é tão longe que não possas lá chegar...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Entre paragens, partida e sem fronteiras

http://www.youtube.com/watch?v=4pXrlXmnd1M&feature=youtube_gdata_player

Desculpas. Perdões e tanta palavra que tenta explicar o que não tem explicação razoável.
Orgulho. Defeito? Ou amor próprio? Aos olhos de quem é o nosso orgulho é ferido ou fere o próximo. Quem define as fronteiras?
Fronteiras. Portas abertas ou linhas invísiveis intransponíveis, que separam o ser do parecer.
Voar. Com que asas te elevas a cima de ti, com as tuas ou com as que te põe, enormes para o teu corpo e desconfortáveis.
Desconhido. Aquilo que não nos faz sentido por mais que se tente render a imaginação.

Desculpa, o orgulho limita-me as fronteiras e não me permite voar no desconhecido.
Os anjos têm asas. Não sou anjo, sou mulher. Só consigo usar o que tenho como meu. Viajo, com a bagagem minima de quem deixou tudo para trás. Deixo as desculpas para quem se orgulha de ter transposto todas as fronteiras e voado para lá do desconhecido onde não quero chegar.

Partir. Dividir, ir embora. Sem dicionário é apenas o que me faz lembrar... partida, estou de partida.


terça-feira, 5 de julho de 2011

Amar, amar...

http://www.youtube.com/watch?v=wjSOqJ9zBhY&feature=youtube_gdata_player

Quem foi que transformou a chuva numa cascata pura e cristalina?
Quem foi que roubou a água dos meus olhos, para com ela me lavar o corpo e a alma? Quem transformou as humidades de um bolor que me consumia, em gotas de orvalho fresco e cintilante ?
Que incansáveis pequenas aranhas ( nós e só nós tecendo nós) tecem a sua perfeita teia, orgulhosas da sua criação?
Quem tomou o meu corpo e o renovou num ritual de purificação transformando as lágrimas em suaves sons duma canção?
Quem libertou as tempestades, domou com ciência as vontades, pintando de novas cores as vaidades?
Quem me sussurrou ao ouvido as palavras que hoje digo?
Esta natureza enfeitiçada, quase por ninguém domada, tantas vezes desmaiada, em tons velhos, desbotados...
Tomaste o meu cálice, bebeste do meu seio sentido. Sangraste tuas dores comigo.
Voltaste na madrugada, com as mãos cheias de nada e preencheste o vazio.
Ouves a água que corre? a paz que por aqui se ouve?
Foste a estrela da manhã. Foi a noite que passou e o teu corpo que me encontrou. Nesta teia de palavras, devolvo-me em pequenos nadas ao tudo que contigo sou.
Agua, fogo, terra, ar... tudo no nosso olhar... e esta água que corre, onde nos vamos banhar...
Amar. Vem junto ao meu ouvido, sussura feitiços comigo... na madrugada, somos a força indomada, correndo por nós, em cascata. Amar...amar...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A nossa lua, meu amor...

http://www.youtube.com/watch?v=IDc7x9iMoac&feature=youtube_gdata_player

-Lua que vais tão alta...
-Tão alta como?
-Tão alta meu amor, que um dia, se desejares com muita, muita força, serás tão grande que a poderás tocar.
Tocar como se fosse música?
Tocar como se fosse o que tu quiseres...
Eu quero ser malabarista ou então trapezista. Poder voar lá no alto, num baloiço enorme que me embale para sempre. Achas que assim posso tocar na lua?
-Se o baloiço for muito, muito alto, se tu quiseres muito, muito e se não tiveres medo de cair, tu podes tudo meu amor.

Tu podes tudo meu amor! O amor, a vontade, a força de ter sempre alguém com uma palavra doce de encorajamento.
Sinto falta das tuas palavras doces, quando no meu trapézio encostada à lua que sonhámos para mim, te recordo com carinho. Tornaram-se mais negros os teus olhos, mais branca a tua pele, mais dura a tua voz. Deste-me o sonho, a capacidade de lá chegar... deste-me o livro virgem onde fui escrevendo a minha vida ao som das palavras doces com que me sorrias. Cantaste-me as mais belas canções de embalar vontades, mas com elas te deixaste adormecer...
Tenho saudades de ti, desse teu eu perdido. Queria que me visses sozinha no meu trapézio, embalando os meus sonhos e tocando a lua, a nossa lua...

sábado, 2 de julho de 2011

O lugar de um livro

http://www.youtube.com/watch?v=dxlxqiRmNqM&feature=youtube_gdata_player

Gostava de gostar de televisão. Faz companhia vivermos através dos olhos vidas que inventam para vivermos. A caixa está fechada, parada e o que de lá se solta não preenche os vazios da casa onde aqui e ali os móveis vão ganhando espaço como frondosas árvores num descampado.
Percorro as estantes, deixo os dedos tocarem um a um as lombadas dos livros. Títulos e títulos de histórias passadas, sentidas e vividas em algum periodo. Todos os livros têm o seu tempo certo. Não somos nós que os escolhemos, são eles que nos escolhem a nós, como misteriosos mensageiros de algo que precisávamos saber ou entender num determinado momento da vida.
Todos têm o seu lugar e ficam depois guardados em condensadas memórias do essencial ou em condensadas estantes. Passo os dedos...nenhum novo, todos os títulos já tiveram o seu momento de glória na minha vida.
Há tanto tempo que não encontro um novo livro. Um livro é como uma paixão tem que ter o seu momento e ser vivido intensamente, temos que lhe dedicar tempo e compreensão.
As estantes estão cheias, de livros que já fizeram parte do meu tempo, dos meus sonhos. Há tanto tempo que não leio nenhum...na biblioteca repousam outras estantes, de livros que me sussurram:
- leva-me, vais gostar de me ler. E eu trago e leio, mas não são os meus livros, não vão ter um orgulhoso lugar, só seu na minha estante.
O tempo voa, lêm-se a correr os livros, agora. Não deixam os sentidos voar com as letras nas asas da imaginação. Não se constroem cenários nas nuvens, não se sente o gosto pelo sabor da história. Tudo a correr... e passo a mão pelo ultimo... ou foi o tempo que alterou o ritmo ou o ritmo que alterou o tempo e a quietude da casa faz-me lembrar que as memórias mesmo contidas em livro sempre se poderão apagar se as estantes onde repousarem se tornarem demasiado longíquas para lhes poder passar, de vez em quando, com os dedos na lombada.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Inspirei-me









Inspirei-me...

De onde vim?
Pergunto-me muitas vezes qual foi a massa genética que me moldou.
Percorri caminhos nunca trilhados, sonhei sonhos nunca antes sonhados.
Num rasto de nuvens vi paisagens...tempestades e bonanças.
Dormi ao relento ao luar.
Bebi as águas das fontes que nunca ninguém achou, que jamais serão encontradas.
De onde vim?
Caminhei por entre os trilhos dos sonhos, vendei os olhos para poder sentir, deixei que a música me guiasse o coração...
Foram desertos de paixão, oceanos de solidão, foram chuvas de suores de prazer e um sol quente que secou vontades...
De onde vim?
Um dia tocou um sino. Eram badaladas. Meia-noite, seria?
Eram os olhos de menina que no ar que respirou, sentiu inundar-lhe a felicidade de um mundo que só ela conhecia.
Seria meia-noite? Ou seriam as outras metades do dia? E depois que mais viria?

Embarcar no sonho

Embarquei. O céu era o limite.
-Já viste um barco voar ?
- já viste um sonho acabar?
Os sonhos não acabam...nunca acabam, transformam-se tal como o que vive e não vive, o que está, ou apenas se sente na natureza. O sonho tem a capacidade de se transformar no mais encantador ou absurdo factor de esperança. Através dos sonhos tu arrumas gavetas desarrumadas ou simplesmente as desarrumas ( pensando tu que estavam bem como estavam) só para a tua mente te dar a possibilidade de novas perspectivas.
-E os pesadelos? Os pesadelos também são sonhos...
Os pesadelos são medos que montam os cavalos da imaginação e correm livres pelos montes e vales do pensamento.
- É por isso que gostas de embarcar em sonhos?
- Não necessáriamente. Por vezes é bom soltarmos os medos. Como tudo o que está preso demasiado tempo, também os medos quando soltos não sabem como se comportar. Deves incentivá-los a vir cá fora espreitar. Senti-los , sonhá-los, vivê-los. Só assim os podes conhecer. Conhecendo-os deixam de ser pesadelos e passam a ser apenas o que são, dúvidas, por vezes difíceis de explicar, é certo, mas apenas dúvidas.
-Assim o sonho nunca acaba...
-Como te disse, nunca acaba, apenas se transforma, e se soubermos dirigir o rumo da nossa embarcação de sonho ela dirige-se, contornando as dúvidas, exactamente para o nosso lugar...

terça-feira, 28 de junho de 2011

Jamais serás perdido, mesmo que quebrado, partido...



                            Num sopro de amor...
                               Uma vida...pétalas de dor...
Em segredo ficam sonhos, lembranças, horas, dias... esperanças perdidas...
Por um segundo marcado, um destino traçado, linhas que se cruzam nas mãos, caminhos errados.
Onde ficaram as expectativas, as forças investidas?
Acreditar. O amor vencerá.
Um dia alguém te encontrará, e lá, nada ficará perdido, nada terá ficado escondido.
Histórias de horror também fazem parte do esplendor que é o segredo da vida.
Por vezes contida em fronteiras incertas, rasgadas, erradas... ninguém entende. Ninguém compreende.
Uma flor colhida prematuramente do jardim da vida guardará para sempre o esplendor do desabrochar, algumas em especial, serão eternas no seu perfume, no seu eterno estar.
Tal como um amor verdadeiro... uma vez sentido nunca mais será perdido, mesmo que quebrado, partido.




Em singela homenagem ao Angélico

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O que é a vida. Amor?

http://www.youtube.com/watch?v=JMxp6Up-6-I&feature=youtube_gdata_player

É noite e a luz da lua cobre com o seu nobre manto pálido, numa coloração semi-gelada o calor que a Terra ainda evapora.
- Sonhas...
-Como sempre...
- Com que sonhas?
- Com um país edílico onde a natureza terreste faz amor, permanentemente, com o cosmos que a envolve.
- Fascina-te a natureza...
-Sempre, toda ela. A perfeição dos corpos, animais e vegetais, assim como dos corpos celestes. A dança contínua entre a quimica e a física, que se atraem e repelem num movimento incessante que produz energia...a criação ( biologica, psicológica, até a menos lógica) a mística dos segredos da perfeição matemática, as propriedades curativas escondidas na natureza combinadas com as cabalas e as superstições. Tudo o que abarca a vida me fascina.
- E o que é a vida?
Olhei-te. A pergunta não se enquadrava no quadro de referências que tenho de ti. Não que seja de ideias pré-concebidas, mas pressenti uma pergunta interna e não uma conversa comigo ( não é costume).
- Diz-me feiticeira, o que é a vida?
A vida meu amor, a vida é simples. A vida é o que temos dentro de nós. Esta magia que nos deram à nascença e que cada um utiliza ou desperdiça como quer ( calei-me, não te respondi, não sabia se era isto que te queria dizer). Acendi as velas que repousavam em cima da mesa. As purporinas do copo, com a luz, brincavam e espelhavam-se no tecto do alpendre jogando às escondidas com as sombras.
- Vês? A vida é como este copo com esta vela lá dentro. Se a vela estiver apagada, se não lhe dermos luz, nunca poderemos imaginar a beleza que produz, quando se reflecte nas purporinas.
- Essa tua forma de olhar a vida é utópica, já pensaste nisso?
- Já, penso nisso todos os dias e agradeço esta utopia que me invade. Foi a utopia que levou o Homem para lá do mar, para lá da terra, para lá do ar e até para lá das suas próprias barreiras e limitações internas. É a utopia que me faz amar, que me faz amar-te.
Calaste-te, nunca te tinha dito explicitamente, porque há coisas que se vêm e se sentem mesmo sem haver palavras que as definam... embora as palavras marquem, para sempre, o que acontece.
- São bonitos os teus copos, dão um efeito engraçado à luz das velas.
- ...
- Está bonita a lua hoje, e este calor, apetece estar no alpendre.
- ...
Depois foi o céu, e a lua, as estrelas, o chão ( nem sempre é duro o chão) as purporinas a dançar com as sombras nas paredes, o calor, o suor e a tua respiração.
Depois fomos nós e a natureza e os corpos, celestes, entre quimicas e fisicas...foi a vida, a utopia e a vela que ardeu até não sobrar nem mais uma sombra de prazer naquela noite.


Aquários da escrita ( até ao fim dos mundos)

http://www.youtube.com/watch?v=IMEx4dSdxwI&feature=youtube_gdata_player


-Escrever, o processo, implica que me estejam constantemente a chamar.
-Faz como eu não escrevas,
diz. Devagar as palavras saem
as certas, as necessárias,
que o superfulo deve ser eliminado, na lógica da economia. Um processo,
como qualquer outra coisa
só chama quem lá está para ouvir.
- Enganas-te, demasiadas vezes, escrevendo, chamei quem não queria presença.
- Explica-te melhor, não te entendo.
- Nem tu, nem a maioria das pessoas...repara que escrevendo, chamas a ti os que conheces, os que imaginas, os que crias, os que foram os que não foram os que serão e os que não serão. São, se reparares, uma multidão.
- E o que fazes tu a tanta gente?
- Como te disse, estão constantemente a chamar-me enquanto escrevo. Falar não adianta, já que não existem a não ser nas minhas linhas. São como peixes num enorme aquário. Nadam para cá e para lá, borbulhando palavras, chamando a minha atenção para situações que crio ou criei ou poderei criar.
- E sentem os teus peixes?
- Sentem-se com o mundo que lhes dou.
- Como as pessoas, que se sentem com o que lhes fazemos ou com o que lhes dizemos.
- Sim, se o vês assim... a minha escrita é um laboratório de experiências sentimentais, fechado entre as paredes de um aquário onde os meus personagens peixes me fazem viver e sentir , nadando entre as ilusões criadas por metáforas da existência de todos nós.
- És de facto estranha...
- Sou mulher, e como todas as mulheres não me encerro numa única dimensão. Redimensiono mundos à medida do sentimento, economizando recursos, nos processos que me permitem percepcionar o que foi, o que quero e o que será.
- E os peixes?
- Os peixes...os peixes são como as pessoas, abrem e fecham a boca para viver e sentem-se sempre que o ambiente se altera...



quinta-feira, 23 de junho de 2011

Levito





Levito. Sempre que as ideias se encadeiam como fios de cabelo, que, sem direcção precisa, se enleiam em complicados nós de instinto, sentimentos e razão, levito.
Perco o meu peso no ar, nesse ar que nos sustenta a vida. O ar. O ar de quem não sabe definir a direcção dos pensamentos.
Penso em ti. Levito. Medito nesse teu ar, com que me respiras. Com que me fazes entrar e sair da tua vida.
Fazes sentir-me. Leve. É o que sou na tua presença. Ostentas o meu coração com que sustentas o meu sentir... e levito. Subo, acima de qualquer realidade pois o sono é leviano na tua ausência. E os cabelos enleiam-se como os pensamentos, enovelando os ciúmes em rolos que vais esticando sempre que entras e sais. E levito, porque me quero leve, porque me quero eu. Porque quero o meu leito, na tua ausência ou na tua presença. Sou eu, a mesma. Tu vais, o meu coração fica. O corpo pode chamar, o ar pode até faltar. Mas eu fico e levito, deixando o cabelo desembaraçar-se lentamente das ideias que me prendem.
Entras e sais lentamente, inspiras e expiras, sou tua totalmente e o meu corpo pede-te fora por momentos, para aumentares novamente o prazer com a tua presença...levito. E sou a mesma contigo ou sem ti, aqui...






quarta-feira, 22 de junho de 2011

Danças?



Danças?
Não sei dançar...
Não sabes? ( risos descontrolados, de quem goza despropositadamente com o que se desconhece poder desconhecer)
Como é que não sabes dançar? toda a gente sabe! É só mexer o corpo, levantar os pés do chão, deixar a música entrar em ti, tomar conta dos pensamentos. O resto vem depois... lentamente a música fará as tuas sinopses e deixas de ser tu, mas a música, que controla todo o teu sistema, percorrerá todos as mínimas terminações que darão as ordens ao corpo para se mexer. Tu não tens que fazer nada, só ouvir.
Olho com os olhos demasiado abertos e a expressão assustada de quem não entende nada do que acabou de ouvir. Tentava ligar todas os passos do que me fora ensinado:
Ouvir a música, deixá-la entrar na cabeça... ou seria no corpo ou nos ouvidos? (como se faz isso, como tenho a certeza que entrou, e estarei a ouvir o que os outros ouvem?a fazer os movimentos que são devidos?)  E mexia-se o quê mesmo? os pés?
Deste-me a mão descontraida.  Dei o primeiro passo... foi quando a senti ( não entrou como me disseras, mas percorreu) o coração apresentou-se e sentia-a tão minha amiga como tu o és. Não precisei de ordem mental, nem de recordar. Precisei apenas, como numa sincera amizade, que fosse eu. Um pé, um braço, movimentamo-nos as duas, eu e a música, sem pedir licença ou perdão por um movimento desconjuntado, é apenas sensação, movimentação...
Podes fechar os olhos, não vais cair. Agora que a deixaste entrar, a música forma um ser apenas, com cada um de todos nós. Chama-se libertação, quando deixas de pensar naquilo que tens que fazer e fazes só aquilo que te permites pensar...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Vida de feiticeira

http://www.youtube.com/watch?v=2OoLHfo1QD0&feature=youtube_gdata_player

Voamos? Sim voamos.
Saimos de casa pela manhã, como pessoas normais. A nossa rotina, não se enquadra nas filas de trânsito, nem no calor demasiadamente apinhado de humanas (in)consciências.
Voamos.
Não passamos por marginais, nem autorotas de kilometros sempre iguais.
A nossa paisagem é construida por montanhas e vales, países desconhecidos, criamos caminhos por onde a nossa imaginação espreitar.
Não trabalhamos. Empregamos a nossa imaginação em prol do que é necessário ser feito. Um sorriso, um papel, um feitiço, um ensinar a amar e a trabalhar, sem o esforço de um não gostar.
Voamos.
Cruzam-se vidas, choros, mágoas, sorrisos, por entre os sonhos que sonhamos viver e as vidas que vivemos sonhando.
A mulher que fala demais, mesmo ao teu lado ( peru, engalanado em vesperas de dia de Páscoa ) e ris, fingindo atenção e coração às palavras que se sobrepõem sem nada dizer. O homem de olhar apagado que não diz o que lhe vai por dentro e tu lanças o balde, procurando a água no fundo do poço. Pessoas, passagens, entradas e saídas.
O dia passa, numa rotina sem tino, e montas de novo o teu barco que voa e voltas...
A casa.
Como foi o teu dia? Crianças, que misturam o que foi com o que podia ter sido.
O que é ser adulto?
É saber levar sempre consigo, pela mão, durante o longo voo que é a vida, as experiências supersensíveis que misturam o ser com a magia de poder fazer tudo acontecer.
É esta vida de uma qualquer feiticeira...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

So(m)bras

Sobra...
Sobra sempre alguma coisa.
Sobro eu...
Sobra o que resta do que não se consumiu.
Sobra o orvalho da manhã nos meus olhos, quando o frio da noite vai embora. Sobram os restos da noite quando o lençol em desalinho demonstra a ausência do sono.
Sobram as formas da escuridão quando em pleno dia se faz sombra.
Sobramos nós, sempre que mais nada há a dizer.
Sobra a vida...
Essa a que nada podemos impor a não ser vontade. Sobram as escalas que o homem inventou para te poder medir, nos poder medir. O tempo, a ampulheta que te oculta em contra-relógio o quanto sobra...
Sobram os medos de não chegar, de não fazer, de não ser capaz ( e o orvalho que não seca, o sol que não vem, as sombras que não chegam no pino do calor).
Sobra a compreensão que para tudo há o seu jeito, o seu tempo ( o tal, que aprisionámos ! - quem eu? porque me chamas homem se nunca o fui e abomino o tempo,malvado - em ampulhetas e monitores e ponteiros que só apontam um eterno rodar, um eterno a circular )
Sobra tudo o que ficou por fazer, o que ficou por dizer, como sobra o orvalho que pouco a pouco, com o calor do dia que volta, se evapora para voltar mais tarde.
Não sobrou nada. Talvez um punhado de terra a mais onde as sombras virão descansar do calor, ou onde alguma ave se aproveite do que sobrou da semente. De novo há-de sobrar... dias, horas, palavras para se dizerem.
Dir-me-ás que não sobra nada? Ou resta ainda um pouco de orvalho na madrugada, que humidifique o que insistimos em querer secar? É do tempo que não nos sobra... ( o amor que fica, a vida que passa. E de nós? Se nos escondemos, se nos prendemos ao circulo do tempo, não sobra nada ) .

domingo, 19 de junho de 2011

Lembro a agua que escorria da fonte, acompanhada do barulho tempestuoso que da minha compreensão de menino fazia cinzentas as ideias imaginadas e o dia mudo .
Os silêncios que guardo das incompreensões, das perguntas nunca feitas das palavras nunca ditas são como cascatas de letras desconjuntadas em palavras sem sentido que se acumulam nas lembranças e a que falta sempre uma peça que ninguém se lembra onde pôs.
- Páras sempre que por aqui passas...
É porque me lembro dela, dos seus silêncios, de como olhava sempre embevecida , a fonte, como se menina fosse também, como se as minhas dúvidas fossem as suas. E os silêncios...esses silêncios que se escondiam entre as pausas das demasiadas palavras , que de tantas, tão juntas, para se aquecerem, para nos aquecerem , nada diziam, Perdiam-se na multidão de letras e sentidos e esvaziavam-te de culpas, ou solidões ou o que foi que nunca soube. Perguntas sem resposta...
-Nunca me disseste realmente, porque paras sempre a olhar a fonte quando aqui passas?
Perguntas sem resposta... não olho a fonte , olho-a a ela, tentando por uma ultima vez compreender os segredos que se escondiam, por entre as palavras que dizia incoerentes com o que os silêncios escondiam.
Olho a fonte, como se a olhasse a ela. Como se a pergunta, de onde vem tanta água ? A água é sempre a mesma filho , fosse a resposta a todos os enigmas, encriptando em si o segredo das nossas vidas.
Que água continhas tu mãe? Que eras sempre a mesma , que de mim sabias os segredos que não dizia e de ti não soube nada. Tal como a água, que jorrava da fonte em aspecto tempestuoso, e era sempre a mesma , também tu, parada a olha-la ( a água? a vida? ) parecias conter em ti tempestades... perguntas sem resposta...
- Deixa lá a fonte! Ainda perdemos o autocarro.
Perdi... perdi-te... nos olhos recordo as águas contidas, o beijo na testa
- Vá! À tua vida, que eu cá me arranjo. Um aceno apenas, e um mundo de silêncios entre as comuns palavras de despedida. Metade de um país de distância e sei-te um mundo de solidão sem uma unica palavra.
Quem foste tu afinal? Quem serei eu se não te souber a ti que me sabes de cor.
De que servem as palavras, quando nos däo tudo o que somos mas no fim não dizem nada ? E tu mãe, de que fonte bebias tu, mulher que foste...
Um ultimo olhar à agua que escorre enquanto o autocarro arranca. Toca o telemóvel.
- Olá mãe, como foram os teus dias?


Nada.

Abriu-se um fosso...
Choveu. O espaço inundou-se de uma água lamacenta, escura, onde nem as imagens que se reflectiam conseguiam brilhar.
Nasceram peixes ( de onde vieram os peixes se nada nasce do nada e para tudo há um pouco de dois, mesmo que seja do mesmo, mas de género diferente?) . Morreram os peixes, asfixiados pela água parda, escura, onde nada se reflectia e que ninguém sabia como oxigenar.
Secou a água. Ficou o mesmo buraco negro, sem função.
Nada que nasce do acaso tem vida longa. Onde nada se reflete nada estará. O oxigénio que alimenta a vida, faz colorir o que dele se alimenta.
O nada jamais se multiplicará...

Um lugar

...E partes, à procura do teu lugar, sabendo que o sitio que deixas para trás jamais será o mesmo.
Os livros, que ficam na prateleira encher-se-ão de pó. Os que te acompanham deixam o espaço em vazio. Um buraco, entre o que parece arrumado.
Abres a janela. Deixar entrar o sol uma ultima vez, para que ilumine o quarto que ficará vazio.
A árvore, os pássaros, o som do trânsito a que te foste habituando, cada vez mais ( o hábito, o trânsito) com o passar dos anos.
Quão longe terás de ir, para encontrar a tua casa?
O que terás que percorrer, para encontrar de novo um lar?
Mundos e mundos lá fora e o teu aqui, retalhado, deixado em bocados, porque tens que partir...
Uma mentira. Procures o que procurares, só achará beleza, a mentira, nos olhos de quem a conta...por isso partes. Procurando um lar, longe. Tão longe que nem sol, nem mar, nem trânsito, nem memórias te o passam roubar...

http://www.youtube.com/watch?v=5qgEibGY6VE&feature=youtube_gdata_player

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Falar/calar

Resguardamo-nos no silêncio, como quem põe um casaco num dia frio.  As palavras são nobres, o silêncio é sábio. Falar pode ser uma aposta incerta, calar pode ser um envelope fechado, onde uma carta importante repousa, sem que se descubra o seu conteúdo.
Falar/ calar... há quem ponha música nas palavras, tornando-as mais leves, engana-se o silêncio com um melodioso tom de dizer nem sempre o que se quer ouvir. Ah! a música, a melhor amiga de quem não suporta silêncios mas não sabe como resguardar as palavras do nocivo efeito da interpretação.
Falar/calar...a eterna decisão de quem pretende uma sã, sólida e verdadeira razão. O silêncio é sábio, as palavras são nobres. Humano em seu explendor é quem utiliza esta capacidade única do ser gente da melhor forma, alternando silêncios e acertadas palavras em proporções correctas ao exercicio da pura reflexão.
Fere e interfere quem desconhece o poder de ambas. Falar/ calar... e a música no ar, sempre pronta a ajudar

domingo, 24 de abril de 2011

Canções de Redenção






Velhos piratas, sim, eles me roubaram,
Me venderam para navios mercantes
Minutos depois deles terem me tirado
De um buraco menos profundo
Mas minha mão foi fortalecida,
Pela a mão do todo poderoso
Nós avançamos nessa geração
Triunfantemente!

Você não irá ajudar-me a cantar,
Essas canções de liberdade?
Porque tudo o que eu sempre tive são:
Canções de redenção
Canções de redenção

Liberte-se da escravidão mental,
Ninguém além de nós pode libertar nossas mentes
Não tenha medo da energia atômica,
Porque eles não podem parar o tempo
Por quanto tempo vão matar nossos profetas?
Enquanto nós permaneceremos de lado olhando
Huh, alguns dizem que é apenas uma parte disto
Nós temos que cumprir inteiramente o Livro

Você não irá ajudar-me a cantar,
Essas canções de liberdade?
Porque tudo o que eu sempre tive são:
Canções de redenção
Canções de redenção
Canções de redenção

Liberte-se da escravidão mental,
Ninguém além de você pode libertar sua mente
Não tenha medo da energia atômica,
Porque eles não podem parar o tempo
Por quanto tempo vão matar nossos profetas?
Enquanto nós permaneceremos de lado olhando
Huh, alguns dizem que é apenas uma parte disto
Nós temos que completar o Livro

Você não irá ajudar-me a cantar,
Essas canções de liberdade?
Porque tudo o que eu sempre tive são:
Canções de redenção
Porque tudo o que eu sempre tive são:
Canções de redenção
Essas canções de liberdade
Canções de liberdade



Bom Domingo de Páscoa

sábado, 23 de abril de 2011

Que idade é esta?




Começa de novo, poupa palavras...
Demasiada conversa ocupa-te o tempo da acção.
Demasiada acção engole-te a emoção e transforma-te em mecânica replica da produção desenfreada.
Equilíbrio, redondo como a Terra que nos sustenta,  circular posição inicial de nascença...
Começa de novo...

Equilíbrio, união 
o principio e o fim unem-se pelos meios
Equilíbrio, união
o principio e o fim de todos os receios


   No fim de tudo                                                             Vamos fazer
 vai sobrar silêncio                                                      a nossa revolução
só não fizemos algo mais                    Ou deixar que façam do futuro uma ilusão?  Por sermos mais do mesmo

sexta-feira, 22 de abril de 2011

And You, do you believe?




Alguém, algures acreditou em ti...
E tu acreditas que podes mudar,
para melhor,
um pouco do teu mundo ?

O sofrimento do passado abre as portas de um melhor futuro, porque acreditas em ti !


Este é o grande motivo da paixão...





quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ilusionismos

O pátio das Cantigas- Vasco Santana e o candeeiro


Pobreza é qualquer coisa mental e não ausência de um metal. 
Pobreza não é não ter, é não saber... 
Pobreza não está no pão mas na ausência de razão.
Pobre é o Homem que não sente... é todo o homem que mente, tirando ao próximo o que não se esforçou por atingir.
O pobre não se distingue entre os demais. 
Um pobre está em todo o lado, sozinho e angustiado, não pela falta de posse mas por se alhear do próximo que também sofre.
Pode o Homem não comer mas saber ser, pode o Homem não comprar mas imaginar e melhorar.
Deve um Homem dar, sempre, a mão ao seu irmão porque mais do que de pão vive-se de coração. 

sábado, 16 de abril de 2011

Fogos e artifícios

As pessoas gostam de substituições, de artifícios. De fogos que subam alto e enebriem os sentidos com sensações. As sensações...
sentir é reflectir cá dentro o que se passa lá fora. É ser um espelho concâvo ou convexo do eterno movimento exterior. Vive-se o que se sente, sente-se o que se vive... e a vida pode ser uma eterna ilusão de fogo, de artificio e de reflexões moldadas ao que queremos tomar por espelho.
Espelha o teu sentir em luz, festa e sente a vida que se movimenta terna à tua volta. Espelha o teu sentir em dor e o frio apagará o fogo que pede para te fazer subir  mais além...

quinta-feira, 17 de março de 2011

O amor é cego



Não há espelhos que resistam a um amor.
Não há local indicado, hora marcada - receita da avó, com quantidades certas disto e daquilo - não há nada. Há defeitos, há marcas, há chatices, marotices, no fim, se não se esquece o que não importa, saberemos então se é o tal amor, e só assim.
São os defeitos, as coisas que correm mal, as dificuldades, as partidas e chegadas imprevistas da vida, que nos indicam se é ou não amor. Quando tudo corre bem, quando não há sacrifícios, não há provas, não há mostras.
Embeiçados ou enfeitiçados, é nas dificuldades que se mede a resistência do amor.


( O meu abraço para outro lado do amor- o voluntariado - e para aqueles que dão a vida pelos outros, sem pedir nada em troca )

terça-feira, 15 de março de 2011



O carnaval é a mais popular celebração da arte. Festeja-se a criação...nascem a música, os figurinos, os enredos; transforma-se o corpo, através da imaginação, em cor, ritmo, beleza e poesia
O amor à camisola, compete na saudável coexistência de dar o melhor, para chegar ao fim da Avenida como campeão. É a simplicidade do amor ao que mais belo existe no mundo: a alegria .

Parabéns, beija-flor!

( em atraso, mas não podia deixar de homenagear a bela homenagem ao Rei)

Meu Beija-Flor chegou a hora
De botar pra fora a felicidade
A alegria de falar do Rei
E mostrar pro mundo essa simplicidade

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Eles comem tudo...





Acordamos de manhã, cedo, porque eles nos mandam trabalhar...mais e mais...é necessário pagar, pagar para ter, pagar para receber, pagar para viver. É o imposto sem criação, basta pagar para existir uma nação

Eles mudam de intenções, de cores, de razões, mudam de rostos e de desgostos...e nós pagamos os nossos impostos.

E vão e vêm e a gente aguenta com as forças que nos sustêm

O dia começa e o dia acaba, mas há uma coisa que não se paga, a vontade de manter a cabeça em cima da água.

Eles comem tudo, mas não me levam nada...



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Quem esteja bem



Tudo se usa
tudo se abusa
tudo se gasta
tudo desgasta

E foi um tudo (ou nada) do nada que as mãos abertas nunca tocaram...
Que eu fique bem, mesmo que o tudo fique pelo nada que o nevoeiro contém
Mesmo que os dias se encham do nada que resta das sobras do tudo, que eu fique ( o bem brota da pedra fria, da terra quente, dos recônditos lugares onde ninguém vai) ou que eu vá, onde quer que esteja,  que esteja em paz, longe do desgaste que causa o constante desacreditar no ( não) querer do um outro alguém...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O palco do tempo

Foi neste espaço que encontrei esta música maravilhosa que não conhecia



O palco do tempo. Desfilam com as suas roupas - plumas já gastas, misturadas com maquilhagens mortiças, consumidas pelas horas passadas à luz - tentando em vão captar a atenção de um público, que em júbilo, nada assiste ao que se passa.
O público entra no palco e ensaia a sua própria peça, sem roupa: que a roupa insiste em marcas que não existem, que não definem, que não têm valor.
Cá em baixo assistem ao trocar dos papéis, impotentes, perdidas nas suas falas ensaiadas, insistindo em prender na mão um tempo que se esgotou noutras falas.
 É delas a liberdade de se livrarem das personagens que não incorporam, vestindo outras roupas, outras falas, outros papéis. O público já não é  público, são elas, jogando o tempo fora -que assim se prende a elas- tornando-se seu, e em dois se formam um: tempo e mente, em mente de viver o tempo.


É o palco do tempo
Sem tempo a mais
São voltas ás voltas
Por querer sempre mais

É um verso atrás
Um degrau que não viu
São curvas as rectas
Num final não vazio

É o palco do tempo
Sobre o tempo a mais
São voltas à espera
Que não vivendo mais

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Aprender a voar




Há sempre tanto que aprender: em outras alturas - por outros caminhos - estaria agora perdida, sem saber como voar.
Ainda há tanto que não sei dizer, a quem me procura encontrar
O novo paralisante desconhecido: parada ( não fiques parada, não percas esta parada) continuo, mesmo que não saiba como; aprendo.
Tudo se aprende: a falar, a escrever, a estar, a ser .
E tu ?
Eu?
Eu quero aprender a voar; quero aprender a amar...

domingo, 30 de janeiro de 2011

Classificados




Só o estar: um inicio, um principio ou um começo nascem da vontade incontrolável de romper entranhas - rasgar uma pele já gasta de propósitos sem propósito.
Descobrir: A maravilhosa luz que se interpõe entres as sombras - mostrando a realidade que se sobrepõe ao sonho, reconhecendo-lhe as cores -, fruto de um colher de saberes entrelaçados na naturalidade da árvore mãe, que espalha os seus ramos tocando o céu e o chão nesta enorme construção que é a vida.
Esquecer: Por vezes esquecemos as coisas importantes que são ditas buscando passados em  que os mortos morreram e os vivos renasceram para a vida.
Reconhecer: O amor à beleza ultrapassa corpos, almas, gostos, propósitos; inventar uma nova realidade onde todos os tiros acertam no alvo do vício pelo BEM
Classificar? Há coisas que são, sem classificação...



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Coração




...vou já. Subo as escadas a correr. Abro a porta num rompante de quem deseja não ter sequer que a abrir, passo em frente ao espelho e miro-me - só mais uma vez para ter a certeza que continua tudo no sitio certo, tudo no lugar devido - calço os ténis para me sentir confortável; o padrão de xadrez continua a ser o meu favorito mesmo ao fim de tantos anos, será que ainda é o teu?
...vou já. Aproximo-me devagar. A caixa continua lá em cima - distante, quase invisível aos olhares desatentos- subo a cadeira onde a roupa se foi acumulando ao longo dos últimos dias. Intacta, o laço - disparates de menina - mantém firme o seu propósito de contar silenciosamente intentos alheios de desatar segredos.
Desfaz-se um laço, desatam-se amarras de antigos medos. Destapo a caixa devagar, talvez com medo ou receio do que vá encontrar. Lá dentro ele mantém o seu esplendor: a cor rubra - como se o tempo não tivesse galgado os atalhos que a liberdade do caminho lhe dá -, pulso forte - bate como se nada fosse -, vivo intenso, indiferente à caixa que o encerrou na escuridão. Restituo ao peito onde é o seu lugar. A caixa fica vazia, jogada no chão- laço perdido em outros laços achado.
...vou já. É esta ainda a vida do meu coração

terça-feira, 25 de janeiro de 2011



Saudade...
Saudade do toque, do cheiro, da pele, do riso... o amor vive envolto num pano de saudades, que ajudam a colorir a vestimenta que é a nossa. Não vivemos sem roupa; o frio: terrível, invisível inimigo, acaba por nos tolher os movimentos, renegando-nos a uma quietude mortal, mortífera. Não vivemos sem amor: a vida perde a cor, a água nasce dos olhos retirando-lhes o brilho e a esperança fica encerrada, fechada num qualquer lugar escondido.
Sair, abrir os braços, acolher o amor que esteve, está sempre ali para nos acolher, mesmo quando insistimos em não aceitar a diferenças, as nossas, as alheias.
Não chores mais; a saudade aumenta, potencia todas as capacidades. Nascem-me a música e as palavras como magia em frente aos olhos e a magia vem de ti e do tempo que nos falta ainda para chegarmos a um destino - ar...jeitinho...ar...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Não fiques parada




A cada lágrima de fogo, incendeia ainda mais a chama do amor.
A vida rola como uma bola; ao girar  transforma-se de gelo em fogo, de paz em guerra; de felicidade em dor. E a cada volta é vida, é sentimento, é ser; é um tudo ou nada. É assim a vida e só assim vale a pena...
De que vale uma brisa se não levanta pó, se não despenteia cabelos, se não agita árvores à sua passagem, levantando os pássaros dos ramos acolhedores.
De que vale uma chuvada, se não molhar as ruas e os quintais, se não se ouvir o riso das crianças a correr desejando não se proteger; se não houver algures um par de desconhecidos caindo nos braços um do outro ao tentar salvar a roupagem encharcada
De que vale um dia de sol, se não o olhares de frente ( esse sol quente) e aqueceres os pensamentos e a alma com a luz que transmite um calor que não vem de fora mas se encontra cá dentro.
Se não se rasgar a pele ao correr pelo esforço de chegar, nunca se saberá o que custa ganhar, o que dói não vencer; Se nunca partires um prato não saberás dar o valor real à tua louça; se não te perderes no pânico de te perderes não conhecerás jamais a alegria te achares num caminho de chegada.


Nas estradas da vida, os sinais mostram a direção mas as intempéries deixarão as melhores memórias ( as que te recordarão as formas decididas de te protegeres e seguires em frente); as  memórias de vida vivida, porque nesta incessante roda, uma lágrima de fogo perdida na memória transformar-se-à (com a magia do tempo) em sorriso de lembrança do caminho, da bola que girou para se chegar onde se chegou.


O amor não tem caminhos...é a bagagem que levas para te aquecer, não é de outros é teu, serve de almofada para dormir ao relento, de lençóis para te abraçares quente e segura. 
O amor não tem forma, veste-se de roupa de chuva ou de vestido de verão; não vai à tua frente, vem atrás de ti; é a tua sombra, caminha ao teu lado, acende a tua chama quando te julgas ao escuro; é o combustível que mantém a bola rolando, a vida passando, a alma sentindo. Não fiques parada, sentada, esperando o que está atrás de ti (esperando também), um passo para impulsionar a partida; uma nova partida, uma outra partida, mas sempre uma partida, para que haja chegada.



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Definições diárias

E se não te conseguires definir ? Definir-te-ão os gostos, as músicas, as cores, os locais por onde caminhas? Definir - te - á o amor? Qual deles ? O que te liga ao teu mundo? Aos teus lugares? Às tuas crianças? Às tuas pessoas? A uma pessoa que te toca de maneira a fazer-te virar do avesso toda uma existência?
O que  te define ? Os riscos que corres quando gostas de te sentir segura ? A solidão: quando Idolatras as pessoas e as suas façanhas? O egoismo: quando largas o que tens para poderes dividir-te sempre mais, com mais alguém?
Sem te definires, amando-te para além de qualquer definição, e gostando de ser diferente em diferentes situações serás satisfeita apenas na forma que tu defines, não nas definições de outros. Um caminho teu, onde cabe apenas a forma flexivel que se conseguir moldar ao teu corpo.
Sem músicas, sem imposições, sem ideias conceptuais, sem programações, e sobretudo sem planos a seguir...dêem-me o dia, dêem-me apenas o dia e não terei que o definir, apenas que o seguir.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Comandantes do destino



Há sempre aqueles que marcam a nossa vida com toques de revolução e gritos de liberdade. Comandantes das suas vontades - mostram-nos que viver é muito mais que um aglomerado de dias, que um enrolo de vivências, que temos medo de desembrulhar-, são especiais, diferentes, nem sempre utilizam os melhores  meios para atingir fins, mas nada em seus atos transporta coincidência.
Em nós ficam as marcas das lições arrancadas da consciência quase a ferros. Chegados ao final de uma jornada, as provas são dadas. Sabem-se que os caminhos que seguimos são fruto das nossas escolhas, daquilo que pretendemos para o que virá. É nessa altura que começam a ser desnecessárias as ilusões em excesso, ficam apenas as que são fruto da necessidade intrínseca ao viver. Palavras vazias de sentimento não tocam já campainhas:  não abriram portões que se mantiveram fechados.
Atingida a tão querida liberdade, ficam os companheiros de luta - que nem as lembranças desbotadas das fotografias antigas apagarão - fica amizade, o reconhecimento, mas cada um deve seguir aquele que é o seu próprio caminho e que cada um, com as suas atitudes, escolheu. Os erros cometidos em nome da transparência ficam esquecidos no pó da história, as cicatrizes da guerra acabarão por sarar. Mas a liberdade conquistada essa será mantida ao som da luta diária, para não esquecer o que foi ensinado. Cada dia conta...para conquistar os sonhos...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011



Dança ao som da música que a vida te dá. Uma pirueta e outra mais, e as opções vão surgindo a cada minuto, a cada hora. Deixa um pouco de ti por onde passas, leva um pouco do que te deixam.
Dentro de ti encontras as respostas para todas as interrogações, todas as preocupações.
Saber-te pensada, honrada, faz-te seguir com um outro sorriso, mas não te permite voltar a repetir o que já foi feito, mesmo que a vontade de repetir tudo de novo te impila a fazê-lo.
Construir uma nova forma pode não ser fácil, mas é muitas vezes necessário para que cada passo não seja um retorno às areias movediças que te engoliram em tempos.
A espera pode ser dolorosa, mas deixa que te sintas tu; quem não te abandonou voltará: saberá sempre como fazê-lo, onde te encontrar. Porque se ficaste à espera, construindo com as tuas próprias mãos o teu futuro, foi para que não desmorone tudo ao menor desencanto, ao menor tremor das terras.
No palco da vida, os atores entram cada um por sua vez. Uns entram, outros saem, mas há alguns que nunca sairão de palco e vão acabar por contracenar contigo.  

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Era uma vez: um ano outra vez




Era uma vez...
um caderno: escrito a linhas de sangue, lágrimas e suor. Escrito em letras de luz de uma lua sempre poente, nunca nascente: nova mas cheia de escuridão...
Era uma vez...
quem não o lia, não o via e jamais ouviu uma palavra do que lá foi escrito.
Era uma vez...
um era uma vez, que se foi de vez e retornou num livro de histórias pintadas a mar e chuva e tempestades;
era um diário, um livro, um pedaço e coisas velhas
Era uma vez um calendário, que se foi rasgando; e tornando as folhas novas em velhas, as folhas velhas foram ficando novas
Era uma vez um ano, e outro e outro ainda
Foi uma vez uma menina, que se fez bruxa e uma bruxa que se fez princesa, e uma princesa que se fez mulher
Um conto; de contar coisas, coisas que se descontam por cada vez que era uma vez...

domingo, 2 de janeiro de 2011


Quem és tu? 
À entrada da porta, de novo esperas a chegada do que há de vir.
De novo por aqui?
Roupas diferentes escondem um mesmo interior agora aprumado, arestas limadas de um alguém que já foi e deixou de ser e de novo é. 
Assim se acha o que se perdeu - se transforma o que já era em reciclagem - de um ser que antes de perdido se achou;  nas franjas da procura, nem sabia de quê.
De quê?
Da simplicidade de se saber o que se é; da simplicidade de se gostar do que gosta; de esperar apenas aquilo que as próprias mãos nos dão.
De amar mais e mais: primeiro em mim, depois num tu e finalmente num nós que em conjunto, serão uns que se inventam
Que sou eu para o negar: mas sou para guardar ( guardo segredos de transformação humana, de gente que entra e sai, de vidas e vidas; guardarei para sempre, mesmo que um sempre não nos encontre num mesmo caminho)