quinta-feira, 21 de julho de 2011

As barreiras do visível

Que luzes são aquelas?
A encosta está povoada de multiplos minusculos pontos tremeluzentes. Uma baía de escuridão e de novo uma encosta, fronteira à primeira, como se de uma imagem espelhada se tratasse.
Também as vês?
Vejo. Eu vejo muita coisa. Vejo até coisas que tu não consegues ver...
E o que vês tu?
Sorri e sussurrei-lhe, como se lhe contasse o mais antigo segredo das tradições orais.
Todos os corpos têm luz, aura, um espectro colorido próprio como uma impressão digital. Cada corpo o seu, diferente de todos os outros, em combinações inacabáveis, inegualáveis. Todos os seres vivos têm um corpo que é seu mas nem sempre a luz dos corpos se vê. Porque que há outros corpos mais luminosos que os ofuscam, porque são tão pessoais e secretas, as luzes, que nem todos os olhos as podem ver e não brilham de forma igual todos os dias.
E que corpos são aqueles que vemos?
Fecha os olhos. Que seres estás a ver?
São árvores.
Sim, são árvores. Despiram-se dos seus pudores de imobilidade e dançam com os braços ao vento, tocando por certo no lago onde se afunda a escuridão da baía.
As árvores dançam, amam-se na sua próximidade, fazendo hoje o que não fazem todos os dias nem diante de todos os olhos. Compartilham os corpos e tocam-se mostrando a sua luz.
E porque vemos nós as luzes? Porque não as estamos a observar com os olhos que temos na cara mas com o poderoso olho da intuição, que muitas vezes necessita que se fechem os outros, os que vêm as coisas visíveis.
Gostava de ser assim...
Assim como?
Assim, ver as coisas que ninguém vê.
Não viste?
Vi.
Não soubeste logo que corpos eram?
Sim.
Então, todos somos assim. Basta querer ser sensível o suficiente para tentar ultrapassar as barreiras do visível. Tudo está aí para ser visto, ouvido e percebido, basta usar os sentidos com que a natureza nos apetrechou para ultrapassar as barreiras que a realidade nos impõe...

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