segunda-feira, 25 de julho de 2011

A lua de um homem só

A noite chega sempre serena, continda entre os silêncios e os segredos que as ruas não contam, sempre que encontram os passos dos anónimos que por elas passam.
É sempre mais um coração na solidão, num toc-toc de passadas que trazem em si pensamentos.
Quem vem lá? Quem ousa acordar as calçadas que se descalçam de vida para deixar a noite e vestir de negro as ruelas?
São vestes de festa. O preto é a cor com que se vestem as damas nas horas de cerimónia... a meia preta cobrindo o defeito da pele pronunciando a forma perfeita para o olhar que a quer ver assim.
Parou. O efeito do liquido que altera as percepções é vísivel. Sente apenas aquilo que o peito inflama. A mente transforma lentamente os pensamentos, transferindo-os da cabeça para o coração. A rua ficou em silêncio, de novo, calados os passos parados. Estará alguém por aqui? Nas ruas vestidas de noite as regras são diferentes, como se a etiqueta mudasse. Ninguém. A lua no alto. A lua devia descer mais vezes, chegar mais perto. Devia ocupar os negros véus de cerimónia das vielas onde só caminham os seres que alteram as percepções com poções que ninguém sabe quem criou. Bebidas de Deuses que calam cabeças e fazem falar corações.
Encostou-se. Encostou? Não sei, ninguém viu, porque são o silêncio e o segredo que ocupam os espaços. Sim! Enconstou-se, não se ouvem os passos e eu ouço-lhe apenas os pensamentos. Deviam ser caixas fechadas os pensamentos, porque nem todos os entendem. São próprios, únicos, ganhando lógica apenas na lógica de cada um.
E a lua que não vem cá abaixo. Uma lágrima. Não a vi. Senti escorrer-me nas entranhas, a lágrima não chorada por mim. Uma apenas. Uma cascata de emoções concentrada numa única lágrima. Senti eu e ele... e a lua que não desce para me iluminar a escuridão da noite embriagada num liquido que afoga o coração. Ou será a cabeça? Afogada, perdida, morta de racionalidades. Foram as pernas. As meias pretas, o vestido da cerimónia onde não fui... o corpo que pedia aperto, mãos em volta. Alguém que lhe abrisse os braços, a boca, as emoções.
O caminho mantem-se vestido pela escuridão da noite, esse véu que preenche tudo.
E a lua que não vem cá abaixo, o que é que eu faço?
Desencostou-se. De novo o som dos passos, em compassos de uma música que não dançou. A meia preta enroscava-se já noutra perna, que lhe abriu outras portas. A boca calou para sempre o desejo que lhe escorria certeiro entre pensamentos de coração e de cabeças. Dificil, que ao Homem cabe conter, domar e acertar em uníssono muitas cabeças.
Seguiu. E a lua que não vem cá abaixo iluminar-me as decisões, só a lua entende por certo a mulher, nem sempre cheia, nem sempre nova, nem sempre iluminada mas presente, sempre, em todas as noites que o mundo criar.
Foram os ultimos pensamentos que lhe ouvi. As meias pretas enroscadas em outras pernas, enquanto apenas o peito pensa... e a lua que não veio cá abaixo...
Fechei a janela. A ruela manteve o seu véu negro, vestido de cerimónia da noite. Fechei a cortina. Esta peça por hoje acabou, talvez se encontrem outras meias, outras bocas, outros braços, outras lágrimas num peito afogado no liquido que os Deuses criaram.
A lua entrou, mansinha, sem pedir licença, descalça, para nem se ouvirem seus passos nas pedras que ás calçadas pertencem. De que servem cortinas, pedidos ou pensamentos perdidos se a lua só entrou depois que o pensamento errante , foi embora e se calou...
Ao longe o pensamento dele ainda me chegou... e tu lua ? A ti alguém alguma vez te abandonou?

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