domingo, 30 de janeiro de 2011

Classificados




Só o estar: um inicio, um principio ou um começo nascem da vontade incontrolável de romper entranhas - rasgar uma pele já gasta de propósitos sem propósito.
Descobrir: A maravilhosa luz que se interpõe entres as sombras - mostrando a realidade que se sobrepõe ao sonho, reconhecendo-lhe as cores -, fruto de um colher de saberes entrelaçados na naturalidade da árvore mãe, que espalha os seus ramos tocando o céu e o chão nesta enorme construção que é a vida.
Esquecer: Por vezes esquecemos as coisas importantes que são ditas buscando passados em  que os mortos morreram e os vivos renasceram para a vida.
Reconhecer: O amor à beleza ultrapassa corpos, almas, gostos, propósitos; inventar uma nova realidade onde todos os tiros acertam no alvo do vício pelo BEM
Classificar? Há coisas que são, sem classificação...



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Coração




...vou já. Subo as escadas a correr. Abro a porta num rompante de quem deseja não ter sequer que a abrir, passo em frente ao espelho e miro-me - só mais uma vez para ter a certeza que continua tudo no sitio certo, tudo no lugar devido - calço os ténis para me sentir confortável; o padrão de xadrez continua a ser o meu favorito mesmo ao fim de tantos anos, será que ainda é o teu?
...vou já. Aproximo-me devagar. A caixa continua lá em cima - distante, quase invisível aos olhares desatentos- subo a cadeira onde a roupa se foi acumulando ao longo dos últimos dias. Intacta, o laço - disparates de menina - mantém firme o seu propósito de contar silenciosamente intentos alheios de desatar segredos.
Desfaz-se um laço, desatam-se amarras de antigos medos. Destapo a caixa devagar, talvez com medo ou receio do que vá encontrar. Lá dentro ele mantém o seu esplendor: a cor rubra - como se o tempo não tivesse galgado os atalhos que a liberdade do caminho lhe dá -, pulso forte - bate como se nada fosse -, vivo intenso, indiferente à caixa que o encerrou na escuridão. Restituo ao peito onde é o seu lugar. A caixa fica vazia, jogada no chão- laço perdido em outros laços achado.
...vou já. É esta ainda a vida do meu coração

terça-feira, 25 de janeiro de 2011



Saudade...
Saudade do toque, do cheiro, da pele, do riso... o amor vive envolto num pano de saudades, que ajudam a colorir a vestimenta que é a nossa. Não vivemos sem roupa; o frio: terrível, invisível inimigo, acaba por nos tolher os movimentos, renegando-nos a uma quietude mortal, mortífera. Não vivemos sem amor: a vida perde a cor, a água nasce dos olhos retirando-lhes o brilho e a esperança fica encerrada, fechada num qualquer lugar escondido.
Sair, abrir os braços, acolher o amor que esteve, está sempre ali para nos acolher, mesmo quando insistimos em não aceitar a diferenças, as nossas, as alheias.
Não chores mais; a saudade aumenta, potencia todas as capacidades. Nascem-me a música e as palavras como magia em frente aos olhos e a magia vem de ti e do tempo que nos falta ainda para chegarmos a um destino - ar...jeitinho...ar...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Não fiques parada




A cada lágrima de fogo, incendeia ainda mais a chama do amor.
A vida rola como uma bola; ao girar  transforma-se de gelo em fogo, de paz em guerra; de felicidade em dor. E a cada volta é vida, é sentimento, é ser; é um tudo ou nada. É assim a vida e só assim vale a pena...
De que vale uma brisa se não levanta pó, se não despenteia cabelos, se não agita árvores à sua passagem, levantando os pássaros dos ramos acolhedores.
De que vale uma chuvada, se não molhar as ruas e os quintais, se não se ouvir o riso das crianças a correr desejando não se proteger; se não houver algures um par de desconhecidos caindo nos braços um do outro ao tentar salvar a roupagem encharcada
De que vale um dia de sol, se não o olhares de frente ( esse sol quente) e aqueceres os pensamentos e a alma com a luz que transmite um calor que não vem de fora mas se encontra cá dentro.
Se não se rasgar a pele ao correr pelo esforço de chegar, nunca se saberá o que custa ganhar, o que dói não vencer; Se nunca partires um prato não saberás dar o valor real à tua louça; se não te perderes no pânico de te perderes não conhecerás jamais a alegria te achares num caminho de chegada.


Nas estradas da vida, os sinais mostram a direção mas as intempéries deixarão as melhores memórias ( as que te recordarão as formas decididas de te protegeres e seguires em frente); as  memórias de vida vivida, porque nesta incessante roda, uma lágrima de fogo perdida na memória transformar-se-à (com a magia do tempo) em sorriso de lembrança do caminho, da bola que girou para se chegar onde se chegou.


O amor não tem caminhos...é a bagagem que levas para te aquecer, não é de outros é teu, serve de almofada para dormir ao relento, de lençóis para te abraçares quente e segura. 
O amor não tem forma, veste-se de roupa de chuva ou de vestido de verão; não vai à tua frente, vem atrás de ti; é a tua sombra, caminha ao teu lado, acende a tua chama quando te julgas ao escuro; é o combustível que mantém a bola rolando, a vida passando, a alma sentindo. Não fiques parada, sentada, esperando o que está atrás de ti (esperando também), um passo para impulsionar a partida; uma nova partida, uma outra partida, mas sempre uma partida, para que haja chegada.



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Definições diárias

E se não te conseguires definir ? Definir-te-ão os gostos, as músicas, as cores, os locais por onde caminhas? Definir - te - á o amor? Qual deles ? O que te liga ao teu mundo? Aos teus lugares? Às tuas crianças? Às tuas pessoas? A uma pessoa que te toca de maneira a fazer-te virar do avesso toda uma existência?
O que  te define ? Os riscos que corres quando gostas de te sentir segura ? A solidão: quando Idolatras as pessoas e as suas façanhas? O egoismo: quando largas o que tens para poderes dividir-te sempre mais, com mais alguém?
Sem te definires, amando-te para além de qualquer definição, e gostando de ser diferente em diferentes situações serás satisfeita apenas na forma que tu defines, não nas definições de outros. Um caminho teu, onde cabe apenas a forma flexivel que se conseguir moldar ao teu corpo.
Sem músicas, sem imposições, sem ideias conceptuais, sem programações, e sobretudo sem planos a seguir...dêem-me o dia, dêem-me apenas o dia e não terei que o definir, apenas que o seguir.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Comandantes do destino



Há sempre aqueles que marcam a nossa vida com toques de revolução e gritos de liberdade. Comandantes das suas vontades - mostram-nos que viver é muito mais que um aglomerado de dias, que um enrolo de vivências, que temos medo de desembrulhar-, são especiais, diferentes, nem sempre utilizam os melhores  meios para atingir fins, mas nada em seus atos transporta coincidência.
Em nós ficam as marcas das lições arrancadas da consciência quase a ferros. Chegados ao final de uma jornada, as provas são dadas. Sabem-se que os caminhos que seguimos são fruto das nossas escolhas, daquilo que pretendemos para o que virá. É nessa altura que começam a ser desnecessárias as ilusões em excesso, ficam apenas as que são fruto da necessidade intrínseca ao viver. Palavras vazias de sentimento não tocam já campainhas:  não abriram portões que se mantiveram fechados.
Atingida a tão querida liberdade, ficam os companheiros de luta - que nem as lembranças desbotadas das fotografias antigas apagarão - fica amizade, o reconhecimento, mas cada um deve seguir aquele que é o seu próprio caminho e que cada um, com as suas atitudes, escolheu. Os erros cometidos em nome da transparência ficam esquecidos no pó da história, as cicatrizes da guerra acabarão por sarar. Mas a liberdade conquistada essa será mantida ao som da luta diária, para não esquecer o que foi ensinado. Cada dia conta...para conquistar os sonhos...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011



Dança ao som da música que a vida te dá. Uma pirueta e outra mais, e as opções vão surgindo a cada minuto, a cada hora. Deixa um pouco de ti por onde passas, leva um pouco do que te deixam.
Dentro de ti encontras as respostas para todas as interrogações, todas as preocupações.
Saber-te pensada, honrada, faz-te seguir com um outro sorriso, mas não te permite voltar a repetir o que já foi feito, mesmo que a vontade de repetir tudo de novo te impila a fazê-lo.
Construir uma nova forma pode não ser fácil, mas é muitas vezes necessário para que cada passo não seja um retorno às areias movediças que te engoliram em tempos.
A espera pode ser dolorosa, mas deixa que te sintas tu; quem não te abandonou voltará: saberá sempre como fazê-lo, onde te encontrar. Porque se ficaste à espera, construindo com as tuas próprias mãos o teu futuro, foi para que não desmorone tudo ao menor desencanto, ao menor tremor das terras.
No palco da vida, os atores entram cada um por sua vez. Uns entram, outros saem, mas há alguns que nunca sairão de palco e vão acabar por contracenar contigo.  

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Era uma vez: um ano outra vez




Era uma vez...
um caderno: escrito a linhas de sangue, lágrimas e suor. Escrito em letras de luz de uma lua sempre poente, nunca nascente: nova mas cheia de escuridão...
Era uma vez...
quem não o lia, não o via e jamais ouviu uma palavra do que lá foi escrito.
Era uma vez...
um era uma vez, que se foi de vez e retornou num livro de histórias pintadas a mar e chuva e tempestades;
era um diário, um livro, um pedaço e coisas velhas
Era uma vez um calendário, que se foi rasgando; e tornando as folhas novas em velhas, as folhas velhas foram ficando novas
Era uma vez um ano, e outro e outro ainda
Foi uma vez uma menina, que se fez bruxa e uma bruxa que se fez princesa, e uma princesa que se fez mulher
Um conto; de contar coisas, coisas que se descontam por cada vez que era uma vez...

domingo, 2 de janeiro de 2011


Quem és tu? 
À entrada da porta, de novo esperas a chegada do que há de vir.
De novo por aqui?
Roupas diferentes escondem um mesmo interior agora aprumado, arestas limadas de um alguém que já foi e deixou de ser e de novo é. 
Assim se acha o que se perdeu - se transforma o que já era em reciclagem - de um ser que antes de perdido se achou;  nas franjas da procura, nem sabia de quê.
De quê?
Da simplicidade de se saber o que se é; da simplicidade de se gostar do que gosta; de esperar apenas aquilo que as próprias mãos nos dão.
De amar mais e mais: primeiro em mim, depois num tu e finalmente num nós que em conjunto, serão uns que se inventam
Que sou eu para o negar: mas sou para guardar ( guardo segredos de transformação humana, de gente que entra e sai, de vidas e vidas; guardarei para sempre, mesmo que um sempre não nos encontre num mesmo caminho)