sábado, 30 de julho de 2011

Podia escrever-te uma carta

Podia escrever-te uma carta. Sei que é o que queres, mas não tenho nada para te dizer. Gostaram - se - me as palavras. Acontece, sabias? O ponto em que já foi tudo dito, e tudo o mais são redundâncias. Prefiro ficar mimando a minha imaginação, como se fosse uma boneca velha. Aquela boneca favorita que nos acompanha o resto da vida, simplesmente porque, o tanto afecto que lhe temos não nos permite dispensá-la. Não me parece sequer que seja esse o teu estatuto, prefiro a boneca velha, a minha imaginação.
Gastaste - me as palavras em fundamentos sem fundações, em discussões sem argumentos, em cansaços de explicações de coisas que não eram para ser percebidas. Porque nem tudo se percebe, nem tudo serve para ser falado, nem tudo pode ser calado.
Gastas-te-me as palavras e mesmo que te quisesse escrever uma carta, não saberia sobre que assunto te falar. Não sobrou o que dizer, gastámos em nós tudo o que havia para ser consumido.
O meu pensamento já não deseja , já não procura. O beijo perdeu o sabor, o teu corpo adormeceu longe do meu e não o sinto no meu leito de aconchego. A chama extinguiu-se de tanto soprar ventos na vela. Prefiro a boneca velha da minha imaginação...
Podia escrever-te uma carta, mas só restou o silêncio para nos preencher e um fogo por reacender...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Desfaço-me em mim




Encostada na encosta observo o mar...
Mergulhar ou não mergulhar?
Ainda mergulho na mar de lágrimas que deixaste no meu caminho. Ainda tento nadar em salvação para encontrar a margem. À margem de tudo. Os braços parecem-me sempre fracos para chegar. E sonho em pesadelos, com o meu próprio afogar. Afogo-me no suor que me fica do teu pensar em mim. Sem ti. Desfaço-me aos poucos como uma corda velha que por demasiado uso perdeu a sua força...ou não talvez tenham sido as voltas da vida que destroceram os fios e desunidos enfraqueceram... Que digo eu? que sonho eu? Quem escreve por minhas mãos estas palavras? Onde vou pairar agora, em que sonhos morarei depois de atravessar o mar de lágrimas da tua paixão?
Desfaço-me em mim, depois de ti. Sou eu os ligamentos desconjuntados de uma corda de força. Torcer e retorcer sem retroceder. O mar ficou para trás. Procuro-te nas ondas que o meu cérebro emana e nem um sonho te persegue. Perdeste-te. Afoguei-te no mar das minhas lágrimas...
Quem sou eu, quem eras tu...perguntas sem nexo para uma quase desafogada. Nem me interessa o que te interessa.Sem pressa, o mar de lágrimas ficou para trás e eu desfaço-me em mim, torço e retorço sem querer mais retroceder

terça-feira, 26 de julho de 2011

Saudades da chuva

Se te dissesse que tenho saudades da chuva, dirias que não me conheces...será que dirias? Será que te conheci?
Tenho saudades da chuva, do chilrear da água que cai sem resguardo e nos resguarda no calor das recordações.
Tenho saudades das tardes de tédio com o chá e contigo por companhia. As tardes em que contavamos as gotas de chuva que conseguiam alterar o seu percurso após o confronto com a velha mesa do quintal...a mesa onde um dia perdemos a cabeça, o corpo, o radar... a mesa onde tudo começou por acabar.
Tenho saudades de te contar, coisas de que nem sempre me lembrava, mas contava pelo prazer de te ver ouvir-me.
Gostava que me ouvisses. Foi quando o som deu lugar ao cheiro e ao sabor do teu sentir, que tudo começou por acabar. E eu...tenho saudades que a chuva lave o que me resta das tuas lembranças e que as gotas mudem de rumo anunciando novas primaveras.
A mesa fica insuportável com a tua imagem presa no vazio do meu olhar...



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Morrer de amor por mim




Morreria mil vezes. Voltaria a caminhar.
Entre o pó, nas tempestades, caminhar... caminhar, navegar.
Morreria mil vezes para te possuir outra vez. Que ninguém possui ninguém...
São momentos gastos, passados, juntos, pegados ou apegados.
Tudo de novo, o coração na boca, o corpo por uma boca a boca por todo o corpo.
Morri!
Quando te conheci... fiquei quebrada, rasgada.
Uma pedra na calçada, pisada.
E morreria mil vezes para poder de novo viver, sentir, arder, para de novo morrer.
O caminho levou-te no pó. Numa cova enterraste o que te dei e só restou a lembrança que me faz querer morrer.
Nascerei? Nascerei...alguém me virá resgatar. Quem ouvirá o corpo que grita um nome já sem nome, sem rosto, sem esperança?
No fundo...e de novo a dança. Desperta-me com um olhar, um sussurro e o coração que te espera. Não és tu, um outro olhar, num outro corpo, numa voz que não dita as mesmas notas de paixão...E morreria mil vezes para pisar as pedras, comer o pó das distâncias e sentir por mim tudo o que senti por ti.
 Voltaria às mesmas teias da paixão, á mesma luxuriosa tensão, mas já não pelo teu coração... apenas pelo meu, pelo sorriso de fazer morrer qualquer desilusão.

A lua de um homem só

A noite chega sempre serena, continda entre os silêncios e os segredos que as ruas não contam, sempre que encontram os passos dos anónimos que por elas passam.
É sempre mais um coração na solidão, num toc-toc de passadas que trazem em si pensamentos.
Quem vem lá? Quem ousa acordar as calçadas que se descalçam de vida para deixar a noite e vestir de negro as ruelas?
São vestes de festa. O preto é a cor com que se vestem as damas nas horas de cerimónia... a meia preta cobrindo o defeito da pele pronunciando a forma perfeita para o olhar que a quer ver assim.
Parou. O efeito do liquido que altera as percepções é vísivel. Sente apenas aquilo que o peito inflama. A mente transforma lentamente os pensamentos, transferindo-os da cabeça para o coração. A rua ficou em silêncio, de novo, calados os passos parados. Estará alguém por aqui? Nas ruas vestidas de noite as regras são diferentes, como se a etiqueta mudasse. Ninguém. A lua no alto. A lua devia descer mais vezes, chegar mais perto. Devia ocupar os negros véus de cerimónia das vielas onde só caminham os seres que alteram as percepções com poções que ninguém sabe quem criou. Bebidas de Deuses que calam cabeças e fazem falar corações.
Encostou-se. Encostou? Não sei, ninguém viu, porque são o silêncio e o segredo que ocupam os espaços. Sim! Enconstou-se, não se ouvem os passos e eu ouço-lhe apenas os pensamentos. Deviam ser caixas fechadas os pensamentos, porque nem todos os entendem. São próprios, únicos, ganhando lógica apenas na lógica de cada um.
E a lua que não vem cá abaixo. Uma lágrima. Não a vi. Senti escorrer-me nas entranhas, a lágrima não chorada por mim. Uma apenas. Uma cascata de emoções concentrada numa única lágrima. Senti eu e ele... e a lua que não desce para me iluminar a escuridão da noite embriagada num liquido que afoga o coração. Ou será a cabeça? Afogada, perdida, morta de racionalidades. Foram as pernas. As meias pretas, o vestido da cerimónia onde não fui... o corpo que pedia aperto, mãos em volta. Alguém que lhe abrisse os braços, a boca, as emoções.
O caminho mantem-se vestido pela escuridão da noite, esse véu que preenche tudo.
E a lua que não vem cá abaixo, o que é que eu faço?
Desencostou-se. De novo o som dos passos, em compassos de uma música que não dançou. A meia preta enroscava-se já noutra perna, que lhe abriu outras portas. A boca calou para sempre o desejo que lhe escorria certeiro entre pensamentos de coração e de cabeças. Dificil, que ao Homem cabe conter, domar e acertar em uníssono muitas cabeças.
Seguiu. E a lua que não vem cá abaixo iluminar-me as decisões, só a lua entende por certo a mulher, nem sempre cheia, nem sempre nova, nem sempre iluminada mas presente, sempre, em todas as noites que o mundo criar.
Foram os ultimos pensamentos que lhe ouvi. As meias pretas enroscadas em outras pernas, enquanto apenas o peito pensa... e a lua que não veio cá abaixo...
Fechei a janela. A ruela manteve o seu véu negro, vestido de cerimónia da noite. Fechei a cortina. Esta peça por hoje acabou, talvez se encontrem outras meias, outras bocas, outros braços, outras lágrimas num peito afogado no liquido que os Deuses criaram.
A lua entrou, mansinha, sem pedir licença, descalça, para nem se ouvirem seus passos nas pedras que ás calçadas pertencem. De que servem cortinas, pedidos ou pensamentos perdidos se a lua só entrou depois que o pensamento errante , foi embora e se calou...
Ao longe o pensamento dele ainda me chegou... e tu lua ? A ti alguém alguma vez te abandonou?

sábado, 23 de julho de 2011

Música e poesia - o diálogo dos anjos

http://www.youtube.com/watch?v=EnJK9uHXots&feature=youtube_gdata_player

A chuva em tempo de Verão é o céu que se emociona de cada vez que um anjo canta. Um poema é um segredo divino autorizado a ser partilhado com o comum dos mortais, é a letra com que os anjos cantam nos seus hinos de amor, nos arremeços de dor que não têm morada certa. Emprestar a voz, a um clamor mais alto, a um grito, a um pranto.
Dividir o peito, o amor e o leito com aqueles que sobrevoam todos os quereres do mundo. É um não calar injustiças, sentindo utopia como o canto natural, tal como a cotovia.
É divindir palavras com quem entende, com quem não sabe ou com quem se vende, a todos por igual como se fossem irmãos de sal ( esse valioso mineral que tempera os instintos, em pitadas alternadas conforme o seu natural sabor).
Sabendo palavras novas, em feitiços se fazem prosas, levando o imaginar ao coração de quem gostar.
Música e poesia - o diálogo dos anjos a que nos é permitido chegar, amar e interpertar. Algo em nós se levanta cada vez que um ser nos canta tocando sem nos tocar num feitiço impar de a todos aproximar.




sexta-feira, 22 de julho de 2011

Quem és tu mulher ?

(Imagem de Mehmet Emin Akkas )


Senta-te aqui...
Não quero, estou bem aqui sentada no chão, o fresco da terra húmida ajuda a diluir o aperto que sinto no coração.
Mas assim vejo-te as pernas e percorro-te as coxas com a imaginação ficando a desejar o fruto que me escondes para lá de tudo o que só posso imaginar. Anda, senta-te aqui perto de mim.
De que vale sentar-me próximo, se não me vês, não me sentes, nem me tocas? Tens medo que siga voando por esses céus onde a lua, muitas vezes só ela, é confidente daquilo que não te digo.
Quando foi que te perdi?
No momento em que o universo te disses para que me tocasses e não o fizeste. Somos um misto de tudo sabias? Desta terra que pisamos, dos desejos que sentimos, das lágrimas que choramos e das palavras que ocultamos até de nós próprios. As oportunidades perdidas são como pérolas encerradas dentro de ostras, fechadas, não saberemos nada da sua preciosidade.
Olho-te, és apenas um corpo, nem melhor nem pior que outros que conheci, mas encerras em ti algo diferente, que me atrai, que me amarra a ti como se fosses uma âncora que me leva ao fundo. Por favor, senta-te aqui...
Levantas-te , o teu jeito de garça com a graciosidade de ave que parte sempre à procura de um lugar melhor para abrigar o ninho.
Sentei-me e ouvi apenas a voz do silêncio. Preferia tempestades, a voz do vento o som da música, tudo é melhor do que o silêncio que nos uniu. Não vás...
O som de uma flauta enche o ar da noite, um som débil, de aprendiz, de criança que aprende a manejar um instrumento, para lhe extrair notas mágicas.
Não vou...mas também não fico. Sou como o teu desejo, tem olhos mas não me sabe ler, usa palavras que não consegue entender, esconde-se em vez de se orgulhar com o nosso querer... não vou, mas também não fico...
Escondeu-se na noite, entre as sombras, no silêncio cortado pelo aprendiz de flautista que sonorizou tristemente mais uma das suas idas.
Quem és tu mulher? Que me fazes nada saber do teu e do meu querer...


quinta-feira, 21 de julho de 2011

As barreiras do visível

Que luzes são aquelas?
A encosta está povoada de multiplos minusculos pontos tremeluzentes. Uma baía de escuridão e de novo uma encosta, fronteira à primeira, como se de uma imagem espelhada se tratasse.
Também as vês?
Vejo. Eu vejo muita coisa. Vejo até coisas que tu não consegues ver...
E o que vês tu?
Sorri e sussurrei-lhe, como se lhe contasse o mais antigo segredo das tradições orais.
Todos os corpos têm luz, aura, um espectro colorido próprio como uma impressão digital. Cada corpo o seu, diferente de todos os outros, em combinações inacabáveis, inegualáveis. Todos os seres vivos têm um corpo que é seu mas nem sempre a luz dos corpos se vê. Porque que há outros corpos mais luminosos que os ofuscam, porque são tão pessoais e secretas, as luzes, que nem todos os olhos as podem ver e não brilham de forma igual todos os dias.
E que corpos são aqueles que vemos?
Fecha os olhos. Que seres estás a ver?
São árvores.
Sim, são árvores. Despiram-se dos seus pudores de imobilidade e dançam com os braços ao vento, tocando por certo no lago onde se afunda a escuridão da baía.
As árvores dançam, amam-se na sua próximidade, fazendo hoje o que não fazem todos os dias nem diante de todos os olhos. Compartilham os corpos e tocam-se mostrando a sua luz.
E porque vemos nós as luzes? Porque não as estamos a observar com os olhos que temos na cara mas com o poderoso olho da intuição, que muitas vezes necessita que se fechem os outros, os que vêm as coisas visíveis.
Gostava de ser assim...
Assim como?
Assim, ver as coisas que ninguém vê.
Não viste?
Vi.
Não soubeste logo que corpos eram?
Sim.
Então, todos somos assim. Basta querer ser sensível o suficiente para tentar ultrapassar as barreiras do visível. Tudo está aí para ser visto, ouvido e percebido, basta usar os sentidos com que a natureza nos apetrechou para ultrapassar as barreiras que a realidade nos impõe...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O mundo dos que sonham por sonhar

http://www.youtube.com/watch?v=EYBHNLdwzbs&feature=youtube_gdata_player

Não sou deste mundo, nem deste tempo e orgulho-me de não o ser, ao contrário do que possam pensar desatentas memórias apagadas ao que se vê...não sou deste mundo e vagueio... desapegada do que não seja apego, aconchego.
Por onde eu vou só acompanha quem sente e não é qualquer ser vivente que voa livre pelos corredores da mente.
São de marfim, as pedras por onde caminho, de seda as asas com que levito nos céus de platina os escudos com que me resguardo, porque não sou deste mundo.
Alheio as atenções às confusões e a vida é bela... Miséria é viver preso ao ser, viver para se entontecer pelos caminhos delimitados das instruções de quem julga que sabe onde vai e onde pensa levar alguém.
Não...não sou deste mundo, e é a música que os céus segredam nos ouvidos dos homens que me transmutam da miséria dos dias iguais para a magia de poder sonhar, só por sonhar, sentir só por poder sentir, viver só por poder viver.
Sem mais nada, fora do mundo, porque o mundo só existe dentro de cada um de nós... e eu orgulho-me de ter um enorme, só meu, que partilho com quem entende a voz da música, o som da vida, a língua que fala o coração, o dialeto das nuvens e o código que só conhecem os sonhadores dos mistérios dos sentidos...

O meu mundo fantástico

Construí um castelo nas nuvens e fiquei presa no interior.
Sonhei de dia e de noite com um principe, no seu cavalo alado que me viesse salvar. Esperei, esperei e desesperei...Foi um dragão que me encontrou, cuspindo línguas de fogo que me queimavam a pele frágil, sujeita às penitências de uma prisão. Escondi-me dentro de todos os buracos na pedra, para que não desse pela minha presença, pelo meu cheiro, pelo meu frágil existir.
Desistiu, não me achando.
Uma a uma fiz cair todas as pedras do castelo. A nossa mente cria as nossas próprias prisões quando galga muito acima do sonho praticável.
Gosto da minha cabana. Da janela vejo o mar. Não que ele exista, mas porque simplesmente quero que ali esteja, e a força do querer contrabalança como um fiel aliado a fragilidade do sonho.
Gosto da minha cabana, onde me deito a ler um livro, feito de histórias bonitas, só porque o bonito passou a fazer parte de todas as horas que o meu dia me oferece.
Nunca mais quis um castelo, nem um príncipe nem um sonho que não esteja impregnado de força de querer. Porque não gosto de dragões. Porque as criaturas fantásticas serão sempre imprevisíveis...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Apagar o brilho das estrelas

Uma a uma acabarão por se apagar. As estrelas. Primeiro as mais brilhantes, depois as mais distantes. Talvez seja ao contrário, não sei. Ficará a mais pequena estrela, que assumiu o lugar do sol, sem saber realmente as condições do contrato que assinaria para a eternidade. Brilharás, para que todos te vejam e para que te lembres que é a proximidade que faz o tamanho das coisas, e não a sua real grandeza. Brilharás para que saibas que és grande apenas porque te temos por perto.
Acabarão por se apagar uma a uma as estrelas, tal como todas as outras, pequenas grandes, distantes, proximas, e algumas na utopia que a sua presença é indispensável para a existência de todas .

Perdoa-se quem tem a humildade de pedir perdão e não quem exibe orgulhasamente a bandeira do que se conseguiu em nome do sofrimento e desorientação alheios.

Por isso todas as estrelas se apagarão, porque confundem a cor da sua luz com a cor da luz das outras, até que um dia deixam de ser quem são. Para elas...para as outras...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Post scriptum

http://www.youtube.com/watch?v=J33KUtfHTgk&feature=youtube_gdata_player

Hoje a unica palavra que me entoa na cabeça é obrigada, com todos os sentidos, sentidos que pode ter...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

continuo_ar






Sufocando, o ar que respiro não me chega.
Não me sobram minutos no tempo, e o ar que se espalha no ar que corre não me chega. Nada me chega, tudo me é demais. E talvez esteja a mais. Uma a mais, nos estreitos dedos das mãos da vida por onde escorrem as vidas normais que não sei como atingir. Nado, a nado, entre o nado que nasceu vivo mas que se perdeu ( o que se perdeu?, onde se perdeu? Quem se perdeu? E quem sou eu? )
Nado, um pouco mais de nada e chegarei contra correntes, a esses rios que percorrem as mãos da vida que não sei identificar.
Que escola foi a minha onde não me ensinaram a geografia dos rios da vida?
De onde afluem as liberdades, as vontades, os poderes? Onde é a foz da mentira, da desilusão?
Nado e nado e nada de novo encontro, para encontrar. Quem se perdeu no navegar? Quem te ensinou a nadar? E voltamos ao ar onde a cabeça se esconde, num oco vazio de nada para que os pensamentos possam voar. O ar que respiro não me chega assim como não me chega a vida que encontro e por tento nadar num nada onde me sobram minutos, e onde me falta o tempo para aprender a chegar

sábado, 9 de julho de 2011

Montanhas e horizontes

Elas sempre estiveram ali. As montanhas. Conheço os seus recortes de cor, como geografias da minha própria vontade, as alturas dos meus desafios, depressões e saliências prontas a serem escaladas para descobrir, encontrar.
O que poderá surgir do lado de lá?
Naquelas montanhas o sol se põe. Cada vez que nelas repouso o olhar, a mesma dúvida, a mesma questão.
O que se encontrará do lado de lá da solidez que me separa do horizonte?
Quantas vezes nos diluímos nas dúvidas, deixando ao sol a tarefa de iluminar, só ele, aquilo que queremos também ver...
E deixamos que o sol nos sobreponha, as aves do céu nos gritem o que não conseguimos decifrar, mas também queremos conseguir...
Um dia e outro e no horizonte a montanha que conhecemos de cor e a vontade, essa mortificante vontade de atravessar.
E um dia, do nada que somos, a vontade sussurra ao ouvido a palavra passe. Passa, passa... de ferro, gigante, transformas a montanha em nada mais que uma linha, a um passo do teu alcance, e aumentas numa infinidade de novas paisagens o tamanho do que verás no seguir...

Nenhuma montanha é tão alta que não a possas escalar, nenhum horizonte é tão longe que não possas lá chegar...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Entre paragens, partida e sem fronteiras

http://www.youtube.com/watch?v=4pXrlXmnd1M&feature=youtube_gdata_player

Desculpas. Perdões e tanta palavra que tenta explicar o que não tem explicação razoável.
Orgulho. Defeito? Ou amor próprio? Aos olhos de quem é o nosso orgulho é ferido ou fere o próximo. Quem define as fronteiras?
Fronteiras. Portas abertas ou linhas invísiveis intransponíveis, que separam o ser do parecer.
Voar. Com que asas te elevas a cima de ti, com as tuas ou com as que te põe, enormes para o teu corpo e desconfortáveis.
Desconhido. Aquilo que não nos faz sentido por mais que se tente render a imaginação.

Desculpa, o orgulho limita-me as fronteiras e não me permite voar no desconhecido.
Os anjos têm asas. Não sou anjo, sou mulher. Só consigo usar o que tenho como meu. Viajo, com a bagagem minima de quem deixou tudo para trás. Deixo as desculpas para quem se orgulha de ter transposto todas as fronteiras e voado para lá do desconhecido onde não quero chegar.

Partir. Dividir, ir embora. Sem dicionário é apenas o que me faz lembrar... partida, estou de partida.


terça-feira, 5 de julho de 2011

Amar, amar...

http://www.youtube.com/watch?v=wjSOqJ9zBhY&feature=youtube_gdata_player

Quem foi que transformou a chuva numa cascata pura e cristalina?
Quem foi que roubou a água dos meus olhos, para com ela me lavar o corpo e a alma? Quem transformou as humidades de um bolor que me consumia, em gotas de orvalho fresco e cintilante ?
Que incansáveis pequenas aranhas ( nós e só nós tecendo nós) tecem a sua perfeita teia, orgulhosas da sua criação?
Quem tomou o meu corpo e o renovou num ritual de purificação transformando as lágrimas em suaves sons duma canção?
Quem libertou as tempestades, domou com ciência as vontades, pintando de novas cores as vaidades?
Quem me sussurrou ao ouvido as palavras que hoje digo?
Esta natureza enfeitiçada, quase por ninguém domada, tantas vezes desmaiada, em tons velhos, desbotados...
Tomaste o meu cálice, bebeste do meu seio sentido. Sangraste tuas dores comigo.
Voltaste na madrugada, com as mãos cheias de nada e preencheste o vazio.
Ouves a água que corre? a paz que por aqui se ouve?
Foste a estrela da manhã. Foi a noite que passou e o teu corpo que me encontrou. Nesta teia de palavras, devolvo-me em pequenos nadas ao tudo que contigo sou.
Agua, fogo, terra, ar... tudo no nosso olhar... e esta água que corre, onde nos vamos banhar...
Amar. Vem junto ao meu ouvido, sussura feitiços comigo... na madrugada, somos a força indomada, correndo por nós, em cascata. Amar...amar...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A nossa lua, meu amor...

http://www.youtube.com/watch?v=IDc7x9iMoac&feature=youtube_gdata_player

-Lua que vais tão alta...
-Tão alta como?
-Tão alta meu amor, que um dia, se desejares com muita, muita força, serás tão grande que a poderás tocar.
Tocar como se fosse música?
Tocar como se fosse o que tu quiseres...
Eu quero ser malabarista ou então trapezista. Poder voar lá no alto, num baloiço enorme que me embale para sempre. Achas que assim posso tocar na lua?
-Se o baloiço for muito, muito alto, se tu quiseres muito, muito e se não tiveres medo de cair, tu podes tudo meu amor.

Tu podes tudo meu amor! O amor, a vontade, a força de ter sempre alguém com uma palavra doce de encorajamento.
Sinto falta das tuas palavras doces, quando no meu trapézio encostada à lua que sonhámos para mim, te recordo com carinho. Tornaram-se mais negros os teus olhos, mais branca a tua pele, mais dura a tua voz. Deste-me o sonho, a capacidade de lá chegar... deste-me o livro virgem onde fui escrevendo a minha vida ao som das palavras doces com que me sorrias. Cantaste-me as mais belas canções de embalar vontades, mas com elas te deixaste adormecer...
Tenho saudades de ti, desse teu eu perdido. Queria que me visses sozinha no meu trapézio, embalando os meus sonhos e tocando a lua, a nossa lua...

sábado, 2 de julho de 2011

O lugar de um livro

http://www.youtube.com/watch?v=dxlxqiRmNqM&feature=youtube_gdata_player

Gostava de gostar de televisão. Faz companhia vivermos através dos olhos vidas que inventam para vivermos. A caixa está fechada, parada e o que de lá se solta não preenche os vazios da casa onde aqui e ali os móveis vão ganhando espaço como frondosas árvores num descampado.
Percorro as estantes, deixo os dedos tocarem um a um as lombadas dos livros. Títulos e títulos de histórias passadas, sentidas e vividas em algum periodo. Todos os livros têm o seu tempo certo. Não somos nós que os escolhemos, são eles que nos escolhem a nós, como misteriosos mensageiros de algo que precisávamos saber ou entender num determinado momento da vida.
Todos têm o seu lugar e ficam depois guardados em condensadas memórias do essencial ou em condensadas estantes. Passo os dedos...nenhum novo, todos os títulos já tiveram o seu momento de glória na minha vida.
Há tanto tempo que não encontro um novo livro. Um livro é como uma paixão tem que ter o seu momento e ser vivido intensamente, temos que lhe dedicar tempo e compreensão.
As estantes estão cheias, de livros que já fizeram parte do meu tempo, dos meus sonhos. Há tanto tempo que não leio nenhum...na biblioteca repousam outras estantes, de livros que me sussurram:
- leva-me, vais gostar de me ler. E eu trago e leio, mas não são os meus livros, não vão ter um orgulhoso lugar, só seu na minha estante.
O tempo voa, lêm-se a correr os livros, agora. Não deixam os sentidos voar com as letras nas asas da imaginação. Não se constroem cenários nas nuvens, não se sente o gosto pelo sabor da história. Tudo a correr... e passo a mão pelo ultimo... ou foi o tempo que alterou o ritmo ou o ritmo que alterou o tempo e a quietude da casa faz-me lembrar que as memórias mesmo contidas em livro sempre se poderão apagar se as estantes onde repousarem se tornarem demasiado longíquas para lhes poder passar, de vez em quando, com os dedos na lombada.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Inspirei-me









Inspirei-me...

De onde vim?
Pergunto-me muitas vezes qual foi a massa genética que me moldou.
Percorri caminhos nunca trilhados, sonhei sonhos nunca antes sonhados.
Num rasto de nuvens vi paisagens...tempestades e bonanças.
Dormi ao relento ao luar.
Bebi as águas das fontes que nunca ninguém achou, que jamais serão encontradas.
De onde vim?
Caminhei por entre os trilhos dos sonhos, vendei os olhos para poder sentir, deixei que a música me guiasse o coração...
Foram desertos de paixão, oceanos de solidão, foram chuvas de suores de prazer e um sol quente que secou vontades...
De onde vim?
Um dia tocou um sino. Eram badaladas. Meia-noite, seria?
Eram os olhos de menina que no ar que respirou, sentiu inundar-lhe a felicidade de um mundo que só ela conhecia.
Seria meia-noite? Ou seriam as outras metades do dia? E depois que mais viria?

Embarcar no sonho

Embarquei. O céu era o limite.
-Já viste um barco voar ?
- já viste um sonho acabar?
Os sonhos não acabam...nunca acabam, transformam-se tal como o que vive e não vive, o que está, ou apenas se sente na natureza. O sonho tem a capacidade de se transformar no mais encantador ou absurdo factor de esperança. Através dos sonhos tu arrumas gavetas desarrumadas ou simplesmente as desarrumas ( pensando tu que estavam bem como estavam) só para a tua mente te dar a possibilidade de novas perspectivas.
-E os pesadelos? Os pesadelos também são sonhos...
Os pesadelos são medos que montam os cavalos da imaginação e correm livres pelos montes e vales do pensamento.
- É por isso que gostas de embarcar em sonhos?
- Não necessáriamente. Por vezes é bom soltarmos os medos. Como tudo o que está preso demasiado tempo, também os medos quando soltos não sabem como se comportar. Deves incentivá-los a vir cá fora espreitar. Senti-los , sonhá-los, vivê-los. Só assim os podes conhecer. Conhecendo-os deixam de ser pesadelos e passam a ser apenas o que são, dúvidas, por vezes difíceis de explicar, é certo, mas apenas dúvidas.
-Assim o sonho nunca acaba...
-Como te disse, nunca acaba, apenas se transforma, e se soubermos dirigir o rumo da nossa embarcação de sonho ela dirige-se, contornando as dúvidas, exactamente para o nosso lugar...