segunda-feira, 20 de junho de 2011

So(m)bras

Sobra...
Sobra sempre alguma coisa.
Sobro eu...
Sobra o que resta do que não se consumiu.
Sobra o orvalho da manhã nos meus olhos, quando o frio da noite vai embora. Sobram os restos da noite quando o lençol em desalinho demonstra a ausência do sono.
Sobram as formas da escuridão quando em pleno dia se faz sombra.
Sobramos nós, sempre que mais nada há a dizer.
Sobra a vida...
Essa a que nada podemos impor a não ser vontade. Sobram as escalas que o homem inventou para te poder medir, nos poder medir. O tempo, a ampulheta que te oculta em contra-relógio o quanto sobra...
Sobram os medos de não chegar, de não fazer, de não ser capaz ( e o orvalho que não seca, o sol que não vem, as sombras que não chegam no pino do calor).
Sobra a compreensão que para tudo há o seu jeito, o seu tempo ( o tal, que aprisionámos ! - quem eu? porque me chamas homem se nunca o fui e abomino o tempo,malvado - em ampulhetas e monitores e ponteiros que só apontam um eterno rodar, um eterno a circular )
Sobra tudo o que ficou por fazer, o que ficou por dizer, como sobra o orvalho que pouco a pouco, com o calor do dia que volta, se evapora para voltar mais tarde.
Não sobrou nada. Talvez um punhado de terra a mais onde as sombras virão descansar do calor, ou onde alguma ave se aproveite do que sobrou da semente. De novo há-de sobrar... dias, horas, palavras para se dizerem.
Dir-me-ás que não sobra nada? Ou resta ainda um pouco de orvalho na madrugada, que humidifique o que insistimos em querer secar? É do tempo que não nos sobra... ( o amor que fica, a vida que passa. E de nós? Se nos escondemos, se nos prendemos ao circulo do tempo, não sobra nada ) .

2 comentários:

  1. Esse poema me fez resvalar no tempo, coisa que de bom tempo para cá faço sem perceber, como um chamado distante que marca sua presença em minha mente... amei, viu!? Tem um quê de despreendimento visceral, algo que cutuca e machuca sem, contudo, deixar sequelas no plano físico! Só me resta parabenizar-te (será que as palavras estão a brincar comigo num desencontro proposital?)...

    the Osmar.

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  2. =), brincar ou fazer magia com as palavras? veio ao sitio certo! Ainda bem que gostou...

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os teus pozinhos de perlimpimpim