sexta-feira, 26 de novembro de 2010

As horas do fim




Senta-te na tua cadeira, espera... 
A espera faz passar o tempo numa câmara de imagem em passagem rápida, o cabelo cresce juntamente com todos os apêndices de que te constróis. Não era nada disso que estava planeado, e as cordas ( de onde apareceram as cordas?) apertam-te à cadeira que ganha assim mais dois pés permanentes ( não servem  de nada , de que servem estes pés se tens uma cadeira, como se fosses uma tartaruga sem local para se esconder) Tentas deslocar-te, mas a cadeira não te larga, colada ao corpo...
 - Alguém troca, alguém quer trocar? alguém viu as horas, em que parte é que vamos, falta muito para chegar ao fim? mas que filme é este?-
... cais, a cadeira incomoda-te os movimentos e vais com a cara ao chão, sentes o escorrer agri-doce do teu sangue ( de onde vem o sangue? quem me desamarra as mãos?...)
- Mas quando é que isto acaba? Alguém sabe o nome do filme?-
Não é uma cadeira, é uma cama, os apêndices estão maiores, o cabelo cresceu, é o teu rosto marcado, vincado ( quando foi que te viste ao espelho? sim és tu...) os pulsos acusam os anos de cordas, as marcas já não sagram, calejam-te a pele, as marcas mais que roçadas, forçadas... A visão é sempre a mesma, branco, branco e luz ( de onde é que vem esta luz? ninguém apaga a luz? é de dia ou de noite? e o sol? já morreu o sol? já se consumiu nas suas eternas combustões? esta não é a luz do sol, essa muda ao longo das horas...)
- Que horas são? mas ninguém sabe as horas?-
Tenho fome , tenho frio - Está por aí alguém? queria ir só até ali...ter a certeza que são ainda minhas estas pernas, que não se transformaram em pernas de cadeira ou em cadeira de pernas... A luz mudou...não ouço nada...está aí alguém? alguém???
- que filme é este? mas ninguém quando é que isto acaba? que horas são?  
                                        
                     São as horas do fim

1 comentário:

os teus pozinhos de perlimpimpim