segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um livro apenas

Sento-me. À noite a casa fica mais calma para se poder ler. A chatice da leitura é que necessita de luz e eu...eu prefiro mil vezes as sombras onde podemos indefinir qualquer coisa, na sua definição.
A roupa amontoa-se por todos os lados. Aqui tudo se amontoa. Vão se criando montinhos ordenados como se estivessem no seu lugar, mas nada nunca tem lugar nesta casa onde habito. Falta o meu eu aqui.
Abro o livro. A luz retira-me o prazer da companhia dos senhores das sombras, os medos irracionais que me fazem pular o coração como se estivesse apaixonada.
Apaixonada...nos livros que leio há sempre uma história de amor que acaba bem. Alguém me dizia um dia: as histórias de amor acabam sempre bem ou não são histórias de amor, ao que inevitavelmente respondia: tudo o que acaba, acaba mal, senão não acabava.
Este livro está no fim, não acaba bem nem mal. Acaba apenas. Foi uma história apenas. Acaba talvez por falta de emoção de quem o escreve. Emoções passam-se de todas as formas, como se fosse algo que se colasse a nós só pela proximidade, assim como a luz traz a claridade e a penumbra traz a indefinição, as emoções trazem consigo sensações que se colam a nós.
O livro acabou, mas a mesa aninha um amontoado de outros livros que esperam por mim. Tal como a roupa espera pelo meu corpo, e eu espero por um novo dia vestido de manhã.
Apago a luz, as sombras voltam. Peço silêncio aos senhores das sombras ( os medos). Agora é hora de dormir. Não quero perceber nada indefinido, nem ouvir os seus murmúrios com que escondem seus segredos. Quero dormir e sonhar com uma história de amor que não tem fim e vive dentro de um livro que transpira emoções.

Um livro mágico, que se vê e ouve

http://www.youtube.com/watch?v=lePW7i7vZaw&feature=youtube_gdata_player

Páginas do livro em digital video book , ainda mais perto das sensações.

sábado, 30 de julho de 2011

Podia escrever-te uma carta

Podia escrever-te uma carta. Sei que é o que queres, mas não tenho nada para te dizer. Gostaram - se - me as palavras. Acontece, sabias? O ponto em que já foi tudo dito, e tudo o mais são redundâncias. Prefiro ficar mimando a minha imaginação, como se fosse uma boneca velha. Aquela boneca favorita que nos acompanha o resto da vida, simplesmente porque, o tanto afecto que lhe temos não nos permite dispensá-la. Não me parece sequer que seja esse o teu estatuto, prefiro a boneca velha, a minha imaginação.
Gastaste - me as palavras em fundamentos sem fundações, em discussões sem argumentos, em cansaços de explicações de coisas que não eram para ser percebidas. Porque nem tudo se percebe, nem tudo serve para ser falado, nem tudo pode ser calado.
Gastas-te-me as palavras e mesmo que te quisesse escrever uma carta, não saberia sobre que assunto te falar. Não sobrou o que dizer, gastámos em nós tudo o que havia para ser consumido.
O meu pensamento já não deseja , já não procura. O beijo perdeu o sabor, o teu corpo adormeceu longe do meu e não o sinto no meu leito de aconchego. A chama extinguiu-se de tanto soprar ventos na vela. Prefiro a boneca velha da minha imaginação...
Podia escrever-te uma carta, mas só restou o silêncio para nos preencher e um fogo por reacender...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Desfaço-me em mim




Encostada na encosta observo o mar...
Mergulhar ou não mergulhar?
Ainda mergulho na mar de lágrimas que deixaste no meu caminho. Ainda tento nadar em salvação para encontrar a margem. À margem de tudo. Os braços parecem-me sempre fracos para chegar. E sonho em pesadelos, com o meu próprio afogar. Afogo-me no suor que me fica do teu pensar em mim. Sem ti. Desfaço-me aos poucos como uma corda velha que por demasiado uso perdeu a sua força...ou não talvez tenham sido as voltas da vida que destroceram os fios e desunidos enfraqueceram... Que digo eu? que sonho eu? Quem escreve por minhas mãos estas palavras? Onde vou pairar agora, em que sonhos morarei depois de atravessar o mar de lágrimas da tua paixão?
Desfaço-me em mim, depois de ti. Sou eu os ligamentos desconjuntados de uma corda de força. Torcer e retorcer sem retroceder. O mar ficou para trás. Procuro-te nas ondas que o meu cérebro emana e nem um sonho te persegue. Perdeste-te. Afoguei-te no mar das minhas lágrimas...
Quem sou eu, quem eras tu...perguntas sem nexo para uma quase desafogada. Nem me interessa o que te interessa.Sem pressa, o mar de lágrimas ficou para trás e eu desfaço-me em mim, torço e retorço sem querer mais retroceder

terça-feira, 26 de julho de 2011

Saudades da chuva

Se te dissesse que tenho saudades da chuva, dirias que não me conheces...será que dirias? Será que te conheci?
Tenho saudades da chuva, do chilrear da água que cai sem resguardo e nos resguarda no calor das recordações.
Tenho saudades das tardes de tédio com o chá e contigo por companhia. As tardes em que contavamos as gotas de chuva que conseguiam alterar o seu percurso após o confronto com a velha mesa do quintal...a mesa onde um dia perdemos a cabeça, o corpo, o radar... a mesa onde tudo começou por acabar.
Tenho saudades de te contar, coisas de que nem sempre me lembrava, mas contava pelo prazer de te ver ouvir-me.
Gostava que me ouvisses. Foi quando o som deu lugar ao cheiro e ao sabor do teu sentir, que tudo começou por acabar. E eu...tenho saudades que a chuva lave o que me resta das tuas lembranças e que as gotas mudem de rumo anunciando novas primaveras.
A mesa fica insuportável com a tua imagem presa no vazio do meu olhar...



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Morrer de amor por mim




Morreria mil vezes. Voltaria a caminhar.
Entre o pó, nas tempestades, caminhar... caminhar, navegar.
Morreria mil vezes para te possuir outra vez. Que ninguém possui ninguém...
São momentos gastos, passados, juntos, pegados ou apegados.
Tudo de novo, o coração na boca, o corpo por uma boca a boca por todo o corpo.
Morri!
Quando te conheci... fiquei quebrada, rasgada.
Uma pedra na calçada, pisada.
E morreria mil vezes para poder de novo viver, sentir, arder, para de novo morrer.
O caminho levou-te no pó. Numa cova enterraste o que te dei e só restou a lembrança que me faz querer morrer.
Nascerei? Nascerei...alguém me virá resgatar. Quem ouvirá o corpo que grita um nome já sem nome, sem rosto, sem esperança?
No fundo...e de novo a dança. Desperta-me com um olhar, um sussurro e o coração que te espera. Não és tu, um outro olhar, num outro corpo, numa voz que não dita as mesmas notas de paixão...E morreria mil vezes para pisar as pedras, comer o pó das distâncias e sentir por mim tudo o que senti por ti.
 Voltaria às mesmas teias da paixão, á mesma luxuriosa tensão, mas já não pelo teu coração... apenas pelo meu, pelo sorriso de fazer morrer qualquer desilusão.

A lua de um homem só

A noite chega sempre serena, continda entre os silêncios e os segredos que as ruas não contam, sempre que encontram os passos dos anónimos que por elas passam.
É sempre mais um coração na solidão, num toc-toc de passadas que trazem em si pensamentos.
Quem vem lá? Quem ousa acordar as calçadas que se descalçam de vida para deixar a noite e vestir de negro as ruelas?
São vestes de festa. O preto é a cor com que se vestem as damas nas horas de cerimónia... a meia preta cobrindo o defeito da pele pronunciando a forma perfeita para o olhar que a quer ver assim.
Parou. O efeito do liquido que altera as percepções é vísivel. Sente apenas aquilo que o peito inflama. A mente transforma lentamente os pensamentos, transferindo-os da cabeça para o coração. A rua ficou em silêncio, de novo, calados os passos parados. Estará alguém por aqui? Nas ruas vestidas de noite as regras são diferentes, como se a etiqueta mudasse. Ninguém. A lua no alto. A lua devia descer mais vezes, chegar mais perto. Devia ocupar os negros véus de cerimónia das vielas onde só caminham os seres que alteram as percepções com poções que ninguém sabe quem criou. Bebidas de Deuses que calam cabeças e fazem falar corações.
Encostou-se. Encostou? Não sei, ninguém viu, porque são o silêncio e o segredo que ocupam os espaços. Sim! Enconstou-se, não se ouvem os passos e eu ouço-lhe apenas os pensamentos. Deviam ser caixas fechadas os pensamentos, porque nem todos os entendem. São próprios, únicos, ganhando lógica apenas na lógica de cada um.
E a lua que não vem cá abaixo. Uma lágrima. Não a vi. Senti escorrer-me nas entranhas, a lágrima não chorada por mim. Uma apenas. Uma cascata de emoções concentrada numa única lágrima. Senti eu e ele... e a lua que não desce para me iluminar a escuridão da noite embriagada num liquido que afoga o coração. Ou será a cabeça? Afogada, perdida, morta de racionalidades. Foram as pernas. As meias pretas, o vestido da cerimónia onde não fui... o corpo que pedia aperto, mãos em volta. Alguém que lhe abrisse os braços, a boca, as emoções.
O caminho mantem-se vestido pela escuridão da noite, esse véu que preenche tudo.
E a lua que não vem cá abaixo, o que é que eu faço?
Desencostou-se. De novo o som dos passos, em compassos de uma música que não dançou. A meia preta enroscava-se já noutra perna, que lhe abriu outras portas. A boca calou para sempre o desejo que lhe escorria certeiro entre pensamentos de coração e de cabeças. Dificil, que ao Homem cabe conter, domar e acertar em uníssono muitas cabeças.
Seguiu. E a lua que não vem cá abaixo iluminar-me as decisões, só a lua entende por certo a mulher, nem sempre cheia, nem sempre nova, nem sempre iluminada mas presente, sempre, em todas as noites que o mundo criar.
Foram os ultimos pensamentos que lhe ouvi. As meias pretas enroscadas em outras pernas, enquanto apenas o peito pensa... e a lua que não veio cá abaixo...
Fechei a janela. A ruela manteve o seu véu negro, vestido de cerimónia da noite. Fechei a cortina. Esta peça por hoje acabou, talvez se encontrem outras meias, outras bocas, outros braços, outras lágrimas num peito afogado no liquido que os Deuses criaram.
A lua entrou, mansinha, sem pedir licença, descalça, para nem se ouvirem seus passos nas pedras que ás calçadas pertencem. De que servem cortinas, pedidos ou pensamentos perdidos se a lua só entrou depois que o pensamento errante , foi embora e se calou...
Ao longe o pensamento dele ainda me chegou... e tu lua ? A ti alguém alguma vez te abandonou?